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29/03/2007 - 09:47

Lula e os usineiros

Em mais um discurso pronunciado recentemente em púlpito claramente patrocinado pelo interesse privado, o presidente Lula afirmou que os usineiros, outrora tomados como bandidos do agronegócio, agora se tornam verdadeiros heróis do país e do mundo, frente à necessidade latente da produção de álcool combustível. Novamente, a declaração deixa o sofrido brasileiro diante de uma situação emblemática.

Nosso atual presidente, quando “do outro lado”, era um vociferante crítico da iniciativa privada, do capital especulativo, do baronato financeiro e agrícola. Pregava a “invasão” às fábricas, as greves gerais e atacava a influência capitalista norte-americana. Usava a linguagem dos incautos e oportunistas.

Agora, radicalmente diferente, discursou tentando fazer o povo brasileiro acreditar que ele, por extrema competência administrativa, está possibilitando um resgate da importância nacional frente ao mundo através de uma brecha que lhe foi aberta ocasionalmente, com a questão do biocombustível.

É inegável que a visita do presidente norte-americano George W. Bush ao Brasil abriu algum canal de negociação, do qual só realmente teremos pleno conhecimento daqui a alguns anos, quando ambos estiverem fora de seus cargos presidenciais e virarem, quem sabe, grandes empresários ou acionistas no setor, agora o grande tema do recente encontro. Presidentes de agora se transformando em magnatas do álcool no futuro seria mais um duro golpe no voto de credibilidade depositado pelo povo.

Enquanto não vivenciamos essa hipótese de realidade, estudamos um paradoxo. Afinal, para quem se “enojava” do capitalismo exacerbado, como será conviver com o oportunismo do world businness? Como podemos conciliar as duas personalidades tão distintas? Podemos confiar em um presidente que “transformou” os antigos vilões em heróis, em novos barões do álcool?

O avanço do cinturão verde da cana promove a erradicação da cultura de alimentos, concentra a renda regional na mão de poucos, subverte a oferta de emprego no campo -uma vez que a mecanização das lavouras é crescente- e impele os pequenos municípios a uma dependência econômica que migrará fatalmente para uma hegemonia política digna da época do colonialismo. Com tamanho estrago é impossível concordar com o presidente quando chama de desenvolvimento responsável o programa de incentivo ao plantio de cana para álcool.

Beira a irresponsabilidade a manifestação de quem deveria proteger o interesse do povo, da massa, mas insiste em flertar com o poder econômico concentrado. Em breve, corremos o risco de ver uma nova concepção da paisagem brasileira, coberta por imensas manchas verdes, produzindo a riqueza de alguns e a miséria de muitos. Seremos, traçando um paralelo com os países produtores de petróleo, um imenso deserto verde, com uns “sheiks tupiniquins” mandando nos rumos políticos do país. Mais que imaginação pessimista, essa possibilidade já é realidade hoje em algumas pequenas regiões do vasto interior do país.

Cada brasileiro deveria se preocupar mais com seus ideais nacionalistas. Não devemos permitir o avanço dessa estapafúrdia “corrida do ouro verde”, sob o risco incalculável de termos que enfrentar problemas sociais mais graves e muito maiores dos que existem hoje, problemas estes que o próprio presidente parece ter esquecido frente à nova moda na qual embarcou no momento. Cabe também cobrar transparência em relação ao propalado projeto de apoio ao desenvolvimento dessa cultura sucroalcooleira, dando à população a oportunidade de pleitear direitos que não podem ser vilipendiados pela irresponsabilidade de um ou outro dirigente. Esses direitos estão claros em nossa Constituição, e um deles é o direito ao trabalho e a uma renda que gere o sustento digno da família brasileira.

.Por: Daniel Augusto Maddalena, consultor especialista em cooperativismo

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