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24/04/2009 - 11:56

A dimensão humana da crise

Dentre tantas dúvidas ligadas à crise global em curso, uma certeza existe: é no plano humano que esta e todas as outras crises que o capitalismo contemporâneo já atravessou se manifestam de forma mais cruel, visto que a sua expressão concreta em relação às pessoas é o temido desemprego. Sim, as crises que o capitalismo tem atravessado significam perdas de recursos nos mercados financeiros e de ações para aplicadores e especuladores; representam o fechamento de fábricas e encerramento de atividades de empresas sólidas e tradicionais, levando à falência verdadeiras legendas históricas das atividades empresariais. Este é o caso das tradicionais famílias paulistas ligadas ao café ou mesmo das maranhenses vinculadas ao setor têxtil ou ao de oleaginosas. Tudo isso é muito triste, além de representar problemas concretos e objetivos para a sociedade.

Mas é entre os trabalhadores que as consequências são mais dramáticas, visto que a realidade sócio-econômica destes se caracteriza pela dependência total de sua sobrevivência aos recebimentos periódicos e ininterruptos dos salários, visto não disporem de reservas para enfrentarem um período de ausência de ingressos de recursos. Além disto, os trabalhadores constituem a maioria da sociedade e têm suas necessidades básicas ainda em precário nível de atendimento.

Assim, devem preocupar bastante aos que decidem na economia e na política as informações mais recentemente divulgadas sobre emprego e produção de outubro para cá. O emprego, em especial, apresenta queda de seus números pelo quarto mês consecutivo, já delineando uma tendência, cujo prazo de duração é desconhecido.

Recente publicação do IPEA revela que os que recebem acima de 10 salários mínimos terão mais dificuldades de manter ou encontrar emprego em 2009. A mesma pesquisa também informa que para quem está na faixa de remuneração entre 1,6 e 5 salário mínimos existe igualmente risco de demissões, neste caso em razão de terem sido admitidos durante a expansão econômica recente, não ocupando vagas essenciais nas empresas, além de terem menor custo de demissão. Por outro lado, segundo dados de fevereiro, a indústria paulista voltou ao nível de emprego de 2007, tendo fechado 236,5 mil postos de trabalho desde outubro, o que representa 10% do emprego do setor. Já o gasto com seguro desemprego atingiu nível recorde em fevereiro, com crescimento de 19% em relação ao mesmo mês de 2008. Também a produção industrial apresentou recentemente números cadentes, tendo em dezembro de 2008 diminuído o seu quantitativo em 14,5% comparado a dezembro de 2007.

No setor público a crise também começa a chegar, tendo o Ministro do Planejamento anunciado recentemente a redução de vagas e o adiamento da contratação de servidores aprovados em concursos públicos, visando uma economia de R$ 1,1 bilhão em 2009. Considerando-se a importância que o emprego no setor governamental adquiriu nos últimos tempos, dando margem ao surgimento de uma nova espécie, denominada “concurseiros”, esta medida dá um indicativo do que vem por aí. Por sua vez, ela constitui reação do governo à já constatada queda de arrecadação de tributos, que no primeiro trimestre do ano, segundo dados até 16 de março, foi R$ 10,5 bilhões a menos que o previsto. Para todo o ano, a arrecadação deverá ficar R$ 35 bilhões abaixo do originalmente calculado.

Uma conseqüência desses movimentos no mercado de trabalho e nos níveis de renda da população é o já constatado encolhimento das classes mais altas de renda, de acordo com estudo da F.G.V. Segundo a Fundação, pesquisas sobre rendimento do trabalho mostram que, desde 2004, a cada 100 pessoas, 80 se mantinham na classe AB (Renda do trabalho superior a R$ 4.807,00/ mês) de um ano para o outro. De outubro para dezembro do ano passado, este número caiu para 75.

Mas o que torna mais pessimista o cenário é o comportamento do Produto Interno Bruto (P.I.B.) para este ano, deduzido a partir do desempenho do último trimestre de 2008. Nesse intervalo de tempo o PIB caiu 3,6%, resultado que foi o quinto mais negativo em levantamento com 37 economias, entre as quais Japão, Suécia, Alemanha, Estados Unidos, Espanha, México, Argentina, etc. Com base nesse comportamento, a estimativa de crescimento para 2009, na visão do Governo será de apenas 2%, havendo quem preveja crescimento negativo e recessão.

Deve-se torcer, portanto, para que a situação não se agrave, pois os efeitos mais negativos desse agravamento se refletem no mercado de trabalho.

. Por: José Cursino Raposo Moreira, vice-presidente do Corecon-MA /Cofecon

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