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14/05/2009 - 12:47

Juro civilizado versus usura

A pesquisa regionalizada do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o setor manufatureiro teve sensível evolução em março em relação a fevereiro, mas experimentou acentuada queda em relação a igual período de 2008. Corroborando este dado, o indicador de evolução da produção da Confederação Nacional da Indústria (CNI) referente ao primeiro trimestre de 2009 é o menor da série histórica desde 1999. A entidade constata que a queda da atividade industrial intensificou-se em comparação com os três últimos meses de 2008, com reflexos diretos na taxa de desemprego.

A análise atenta dessas estatísticas evidencia que a recuperação verificada no setor automotivo, estimulada pela redução de impostos, está longe de representar uma tendência generalizada de retomada mais rápida da atividade industrial. A diminuição de tributos é importante e bem-vinda, como começa a ocorrer agora com a linha branca, mas insuficiente para o enfrentamento de uma crise mundial tão grave como a atual.

É necessária ação mais ampla e firme do governo, em especial no tocante à normalização do crédito. É preciso reconhecer as boas intenções das autoridades econômicas nesse sentido, com a flexibilização dos depósitos compulsórios no Banco Central, redução das metas de superávit primário e redução da Selic nas últimas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária). São medidas que ampliam a oferta de dinheiro no sistema financeiro e, em tese, contribuem para a redução da taxa real de juros.

Na prática, há mesmo mais recursos para crédito, em volume igual ao verificado antes da internacionalização da crise. Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), os ingressos de capital externo voltam a ser expressivos. A balança comercial continua com expressivo superávit e o dólar cai em relação à moeda brasileira. No entanto, os juros reais no País continuam sendo os mais altos do mundo. Há algo de muito errado com esta equação. E o equívoco tem nome: spread.

Assim, é crucial que, em paralelo às boas medidas referentes à redução de impostos, o governo adote providências eficazes para que a concessão de crédito no Brasil deixe de ser o atestado de uma dívida impagável. Sabe-se que o retorno médio sobre o investimento varia entre 7 e 12%. Ora, qualquer taxa de juros superior a esse índice torna inviável um empreendimento.

Esse é um problema muito grave que tem afetado a indústria nacional neste momento. O setor é particularmente vulnerável ao custo exagerado do dinheiro, pois é o que requer investimentos maiores e constantes em bens de capital, tecnologia, treinamento de recursos humanos, compra de matéria-prima e gastos com insumos.

A remuneração do dinheiro, com juros em patamares civilizados, é muito justa e correta, pois obedece à lógica do capitalismo. No Brasil, porém, a concessão de crédito aproxima-se da usura, retardando a recuperação econômica. É lamentável, pois o País já demonstrou estar em melhores condições do que a maioria das nações no contexto da grave crise mundial. Por isso, seria muito importante solucionar com urgência essa questão crucial do custo financeiro para os setores produtivos.

. Por: João Francisco Salomão, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Acre — FIEAC ([email protected]).

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