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19/05/2009 - 10:40

Hora de acabar com os garranchos das letras de médicos

Não é raro encontrar, em farmácias, quem já tenha retornado sem o medicamento pela impossibilidade de o atendente, mesmo farmacêutico, de traduzir os traços e rabiscos que, normalmente, vêm acima do carimbo e da assinatura, ainda mais ilegível, dos diversos especialistas da área médica. Esta polêmica de que o médico não escreve de forma legível é, de fato, uma tradição antiga.

Desde a época da faculdade, o acadêmico já fazia suas anotações em bancos ou cadeiras sem suporte, até mesmo nas enfermarias ou ambulatórios. Os professores - na época catedráticos - não tinham, em sua maioria, uma boa letra, o que passava a impressão de que a caligrafia legível não tinha tanta importância. Muitas informações e assuntos dados em aula eram passados de uma maneira rápida, não existindo materiais didáticos que conhecemos hoje, como internet, projetores, filmes de vídeo, etc.

Com isso, os alunos, na fase de aprendizado da parte clínica, começaram a frequentar os hospitais, ambulatórios e postos de saúde e tinham que fazer observações clínicas, receitas orientadas pelo “chefe” de plantão. Nos pronto-socorros, havia a necessidade de preencher o prontuário de forma rápida e ágil.

Apesar disso, todos estes fatos não justificam, de maneira alguma, que o médico tenha uma letra ilegível. De acordo com Lei Estadual 13.556, receitas médicas e odontológicas devem ser digitadas em computador, ou escritas manualmente, em letras de imprensa, fôrma ou caixa alta, nos postos de saúde, hospitais, consultórios médicos e odontológicos da rede pública e privada. A medida visa evitar riscos de equívocos praticados por farmacêuticos, enfermeiros, entre outros profissionais de saúde que, pelo fato de não entenderem a caligrafia de um determinado médico, fornece, em muitos casos, um medicamento diverso do prescrito ocasionando, de certa forma, risco à saúde e à vida da população. Recentemente, a Vigilância Sanitária de Londrina, no norte do Paraná, multou três médicos por prescreverem receitas com letra ilegível para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Cada profissional recebeu multa de R$ 2 mil, podendo apresentar defesa por escrito em 15 dias.

Entretanto, seria utópico exigir que um médico, que atende vários clientes diferentes em posto de saúde, em um período de tempo muitas vezes restrito, faça uma receita por computador. O que então poderia ser feito? Uma solução seria, ainda na época da faculdade, aconselhar os futuros médicos da importância de se ter uma letra legível, com o risco de punição, caso a exigência não fosse cumprida. Em casos especiais, oferecer, ainda, aulas de caligrafia e, em uma avaliação final do curso, checar a legibilidade da letra do aluno, que consta no Código de Ética Médica

Esta sugestão poderia, sim, melhorar um pouco a letra de médicos, estudantes e residentes, mas não de forma definitiva. Aplicar multas, com um valor significativo, reverteria este quadro de forma muito mais visível, fazendo com que este profissional pensasse duas vezes antes de fazer uma receita ilegível. Mais correto ainda, seria reverter esta cobrança em prol de projetos beneficentes, uma medida em que todo mundo sairia ganhando: tanto os médicos, que se viriam livres da polêmica, quanto farmacêuticos e pacientes, que teriam a certeza do uso correto da posologia.

. Por: Dr. Roberto Carvalho, médico cirurgião cardiovascular do Hospital Santa Cruz, de Curitiba (PR), e integrante Titular da Academia Paranaense de Medicina.

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