Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

10/06/2009 - 09:11

Pleno emprego

Um cidadão chega em casa já bem tarde da noite — não necessariamente que estivesse trabalhando. Depois de passar o dia a procurar por uma ocupação, matava o tempo pra não ter de ver a família sem o que comer. Ele não se sente digno da família que tem por não poder prover seu sustento, sequer para matar a sua fome. Não há honra, não há mais autoestima.

Este é um drama real de milhões de seres humanos ou, se preferir, o maior drama da sociedade global. Que me perdoem os puristas, mas não me importa se o fenômeno é cultural ou social, eu o vejo como animal, de uma força avassaladora e muda, que não consegue ser percebida sequer pelos que com ela convivem.

Os desdobramentos deste caso vão de programas assistencialistas a discursos inflamados, todos paliativos de curta duração, que servem mais fortemente a quem os propõe do que a quem os recebe. Não muito distante, aliás, rondando pela vizinhança, há uma sociedade secreta muito mais efetiva que conquista o desespero desses seres: refiro-me à criminalidade.

Em um segundo momento, aquela sociedade cega e surda começa a escutar, a ver e, principalmente, a sentir na própria pele a sua indiferença, ou pior, começa a buscar culpados para esse estado de calamidade. Invariavelmente, os governantes são os culpados, mesmo sem serem os responsáveis. Os responsáveis, estes incautos, somos nós mesmos, que sabemos quais são as prioridades, mas contratamos, ou elegemos, se preferirem, profissionais bem-intencionados, mas despreparados.

Como atacar um problema de todos, ou um problema que afeta a todos, sem nos envolvermos, sem estarmos comprometidos com a solução? Acreditem, não há como. Pagar impostos não basta, assim como aprovar planos de governo.

Pensem comigo agora numa ação motivada pela visão e gestão cidadã daqueles que podem em beneficio daqueles que precisam – em outras palavras, em seu próprio beneficio, se olharem além do horizonte dos resultados do exercício –, numa ação gerada e compartilhada entre a sociedade civil (todos nós) e os gestores públicos. Por exemplo, como seria se cada empresa – da indústria, do comércio ou do setor de serviços – oferecesse amanhã dez vagas para dez desempregados, mesmo que fosse para varrerem as ruas da cidade?

O empresário pagaria um salário mínimo mais os benefícios de alimentação, saúde e transporte e o gestor público, os encargos trabalhistas devidos, além de fornecer os materiais e administrar o serviço prestado. Esses trabalhadores utilizariam um uniforme no qual se poderiam ler o nome do programa ou da ação e o da empresa parceira e patrocinadora da dignidade. Seriam milhares de cartazes ambulantes promovendo a imagem e a reputação de uma empresa ou de um produto.

Seriam talvez cinco mil reais mensais a menos na verba de publicidade de uma organização e cinco mil reais a mais a consumir bens e serviços. Os que pudessem e se sensibilizassem poderiam ainda oferecer cursos profissionalizantes. Para os gestores públicos seriam, faço votos, milhares de cinco mil reais. Mas quem sabe isso não seria, em grande parte, uma realocação dos recursos de segurança pública para a conta de resgate à honra.

É claro que você pode achar a minha proposta ridícula e sem sentido, tudo bem! Publique a sua proposta e vamos selecionar aquelas que poderão ser postas em prática. Eu quero poder discutir as propostas de todos aqueles que forem favoráveis à idéia do pleno emprego. Arrisco-me ao plágio, mas prefiro participar do debate político-social pelo milagre a esperar inercial e complacentemente que um governo um dia o faça.

. Por: Sálvio Di Girólamo, escritor e consultor em cidadania corporativa: www.digirolamo.com.br

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira