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13/06/2009 - 08:00

Proposta aponta como fazer melhor utilização do solo


Pesquisador da Embrapa Cerrados fala sobre o projeto Integração Lavoura-Pecuária; segundo ele, proposta já é realidade no Brasil.

De um lado a lavoura; do outro a pecuária. Ao centro, o objeto comum de ambas: o solo. Para diminuir a derrubada de florestas para que seja feita a expansão agropecuária, pesquisadores da Embrapa Cerrados, unidade localizada em Planaltina (DF), desenvolvem um trabalho com o objetivo de integrar as duas áreas de atuação.

Segundo Robélio Leandro Marchão, pesquisador da Unidade e atuante no projeto “Integração Lavoura-Pecuária: Uma proposta de produção sustentável para a Região do Cerrado e áreas de influência”, essa proposta já é realidade no Brasil. “Isso se deve graças aos esforços da pesquisa, a perseverança e a dedicação dos nossos produtores, que sempre estão em busca de inovações”, afirma.

A Embrapa Cerrados acompanha os desdobramentos da ação no Oeste da Bahia. “Lá os produtores especializados em produção de grãos e fibras estão firmando parcerias com pecuaristas especializados em recria e terminação de animais, que estão sendo terminados semiconfinados nas pastagens implantadas em sistema de consórcio com milho”, observa o pesquisador. “Além da intensificação do uso da terra, a ILP está trazendo grandes benefícios ao sistema de plantio direto, que é uma tecnologia imprescindível para a sustentabilidade dos solos arenosos do cerrado baiano.”

O tempo para a implantação tanto da lavoura quanto da pecuária em uma área obedecem o calendário agrícola, que coincide com o período chuvoso. Já as pastagens são implantadas na entressafra, que acontece, no Cerrado, na estação seca. “Assim é possível utilizar as áreas de lavoura para engorda e terminação de bovinos num período em que normalmente não estaria sendo conduzida nenhuma atividade na fazenda. As pastagens na ILP permanecem verde por praticamente todo o período seco, em uma época em que é comum encontrar pastagens completamente secas e com baixissimo valor nutritivo”, diz Marchão.

Economia -O pesquisador afirma que o modelo traz benefícios econômicos. “O que vem acontecendo nos últimos anos é que a atividade pecuária sozinha não consegue pagar os investimentos necessários à manutenção das pastagens e os pecuaristas entraram em um ciclo vicioso de cada vez menores índices zootécnicos e maior o custo de renovação/recuperação das suas pastagens”, analisa Marchão. “Se o produtor de grãos dedica parte do seu capital à pecuária, ele acaba aplicando o recurso em uma atividade de menor risco quando se compara a pecuária com a agricultura. Na safra passada, por exemplo, nós acompanhamos um caso de um produtor que fazia ILP e teve sua safra de grãos comprometida devido à falta de chuvas. Com a venda dos animais ele conseguiu pagar os insumos que foram adquiridos para a implantação da lavoura”, complementa.

Do ponto de vista do solo, a não variabilidade de aplicações a serem feitas traz uma perda na biomassa. “A causa [de uma área territorial improdutiva] está mais relacionada à degradação das pastagens que, devido ao manejo errado da própria pastagem (superpastejo) associado à ausência de reposição e manutenção da fertilidade do solo, leva a uma condição de baixíssima produtividade da pecuária”, comenta. “Após a degradação da pastagem que tem como consequência uma baixa produção de biomassa e uma redução da cobertura do solo, ocorre também a degradação do solo (compactação, desagregação), que em condições extremas pode causar erosão, assoreamento e poluição dos cursos d'água”.

Benefícios da ILP - Robélio Marchão aponta que há um sinergismo quando se unifica as duas atividades. Ele comenta que a pastagem, devido ao seu sistema radicular abundante e agressivo associada a produção de uma grande quantidade de biomassa, pode favorecer a qualidade física e biológica do solo e aumentar produtividade das culturas anuais subsequentes. “Na lavoura implantada logo após a pastagem, a melhoria da qualidade do solo permite ainda reduzir o uso de fertilizantes devido a uma maior eficiência de utilização destes pelas plantas. Da mesma forma há uma redução do uso de defensivos devido à menor incidência de pragas e doenças”.

Para a área estudada, a Embrapa desenvolveu sistemas de consórcio entre culturas anuais e pastagens. “As culturas mais utilizadas no consórcio com gramíneas forrageiras são o milho, o sorgo e o arroz”, explica o pesquisador. Por outro lado, a soja não possui ainda resultados consistentes. “Mas a Embrapa está trabalhando para desenvolver novas cultivares de forrageiras (pastagens) que sejam adaptadas ao consórcio com a soja. Novas linhas de pesquisa estão sendo trabalhadas graças ao advento da soja transgênica, que permite um maior controle do sistema utilizando herbicidas para controlar o crescimento do capim”.

Desafios e futuro - Marchão aponta que existe uma barreira a ser ultrapassada para o desenvolvimento da ILP. “A entrada de animais em áreas tradicionais de grãos exige uma estrutura física e logística que, muitas vezes, pode tornar inviável a integração. Para os agricultores, o alto custo dos animais, a falta de crédito e a ausência de abatedouros próximo à região são desafios que ainda necessitam ser superados. Para os pecuaristas, o alto custo do maquinário, a falta de assistência técnica e questões culturais ainda são barreiras à atividade de produção de grãos”, observa.

Para o futuro, além da tentativa de resolver alguns gargalos do sistema, está sendo estudada uma nova adição ao ILP. “A inclusão do componente florestal (integração lavoura-pecuária-floresta - ILPF) está sendo estudada e é uma aposta da Embrapa na busca da sustentabilidade da agropecuária brasileira’, comenta. Apesar do trabalho ter sido desenvolvido na Embrapa Cerrados, ele foi realizado em rede, o que cria novas perspectivas de aplicabilidade. “Isso permite que os resultados sejam aplicados nos diferente biomas, desde que sejam respeitadas as características e especificidades de cada região”, finaliza Marchão. | Michel Lacombe/Portal RIPA | . [ Foto: Segundo pesquisador acontece sinergia quando o solo é utilizado para a pecuária e lavoura].

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