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11/04/2007 - 07:13

China e Índia

Equipe de Análise do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) fala da ascensão destes dois países.

Países de maior destaque do BRIC1, China e Índia são herdeiros de civilizações antigas, empobrecidas pela exploração colonial até meados do século passado e que, atualmente, estão entre as economias que mais crescem no mundo. O fenômeno “Chíndia” chama atenção da imprensa dia após dia, e inúmeras análises profetizam sobre sua ascensão, bem como buscam traçar as origens de sua competitividade no cenário econômico internacional. Apesar de algumas similaridades – que incluem vastidão territorial, grande contingente populacional, crescimento econômico expressivo e desigualdade regional – China e Índia apresentam diferenças significativas quanto à forma e modelo de desenvolvimento adotados por seus governos.

Depois de longo período de relativa estagnação, China e Índia, responsáveis por 38% da população mundial, registraram crescimento anual médio de 9,7% e 6,5%, respectivamente, nos últimos anos. Não há dúvidas de que os dois países são capazes de firmar status de potência no mundo globalizado, porém problemas estruturais e institucionais serão possíveis obstáculos no futuro. China e Índia oferecem grandes oportunidades, no entanto não devem ser considerados unidimensionalmente. Análises conjuntas dos dois países são dificultadas por conta da vastidão de suas diferenças. Não somente possuem sistemas políticos distintos, como também suas economias e modelos de crescimento diferem significativamente.

A estrutura do PIB dos dois países é bastante diferenciada. Enquanto em 2005 a indústria respondeu por 53% do PIB chinês, na Índia este índice foi de 27%. Segundo dados do National Bureau of Economic Research, o setor industrial chinês cresce anualmente, em média, 11%, ao passo que na Índia o aumento médio é de 6,7%. Em relação ao setor de serviços, a discrepância é menor: na Índia, o setor cresce na média anual de 9,1%, contra 9,8% na China. Ainda assim, as indústrias de software, call-centers e demais serviços na Índia corresponderam a 41,5% do PIB em 2005. Já no setor agrícola, a China registrou crescimento de 3,7% na média anual, e a Índia, 2,2%. A China é indubitavelmente mais integrada à economia global do que a Índia: mesmo com ligeira valorização do yuan, as exportações líquidas chinesas corresponderam a 24,2% do crescimento do PIB em 2006. No mesmo período, o volume total exportado foi de US$ 969 bilhões, enquanto as importações somaram US$ 791,5 bilhões. O superávit comercial – de US$ 177,5 bilhões – foi 74% superior ao registrado em 2005. O grande volume de exportações chinesas deve-se aos investimentos massivos em infra-estrutura de apoio, especialmente estradas, portos e aeroportos, bem como à ampliação da rede de geração e fornecimento de energia. Desta maneira, a China criou ambiente mais propício às exportações.

A Índia, por sua vez, tem no setor de serviços o principal motor de seu crescimento econômico. Em 2006, estima-se que o país exportou US$ 112 bilhões e importou US$ 187,9 bilhões. Desconsiderando a exportação de serviços, a Índia vende, sobretudo, matérias-primas e importa produtos manufaturados.

Reflexo do alto índice de poupança nacional e do crescente fluxo de investimento estrangeiro no país, o volume de capital acumulado pela China é o maior responsável pelo superaquecimento de alguns setores da economia. O excesso de investimentos pode comprometer a sustentabilidade do crescimento econômico do país e, a fim de amenizar seus efeitos, o governo chinês tem adotado diversas medidas administrativas e instrumentos de política monetária.

Em 2005, a China recebeu US$ 72,4 bilhões em investimentos estrangeiros, valor quase 11 vezes maior do que o montante de capital estrangeiro que ingressou na economia indiana no mesmo período, de US$ 6,6 bilhões. A discrepância do volume de investimento estrangeiro direto (IED) produz efeitos sobre o próprio modelo de desenvolvimento adotado pelos governos chinês e indiano. O IED é fundamental para facilitar o acesso ao mercado global, intercâmbio tecnológico e aprimorar governança coorporativa – elementos fundamentais para o crescimento chinês. A acumulação de capital na Índia está comprometida pelo déficit público. Os recursos provenientes da crescente taxa nacional de poupança são canalizados para o financiamento da dívida pública do país. O fluxo de IED, embora tenha registrado aumento significativo nos últimos anos, é de volume significativamente inferior ao da economia chinesa.

A Índia em muito se assemelha às economias latino-americanas devido ao alto índice de endividamento público em relação ao PIB. A Agência de Inteligência Central dos Estados Unidos (CIA, na sigla em inglês) estima que em 2006 a relação dívida/PIB da Índia seja de 52,8%, enquanto a colombiana, argentina e uruguaia seja, respectivamente, 45,3%, 62,2% e 70,6%. A parcela do PIB comprometida com a dívida pública da China é de 22,1%, pouco acima da previsão para o Brasil feita pela instituição, de 20,2%. Serviços públicos – Apesar de investimentos maciços, os sistemas educacionais chinês e indiano ainda apresentam deficiências. De acordo com a UNesco, a taxa de analfabetismo entre jovens de 15 a 24 anos na Índia é de 24%, enquanto na China é de 1% apenas. Fora dos grandes centros urbanos, o índice sofre aumento significativo em ambos os países. Em razão dos custos, o acesso ao ensino superior é restrito às camadas mais abastadas da sociedade e não necessariamente as universidades atendem aos padrões internacionais de qualidade de ensino.

Novamente, a situação é mais grave na zona rural. Entretanto, China e Índia, diferente dos outros dois membros do BRIC, disputam com países desenvolvidos a formação de capital intelectual por meio de investimentos em instituições universitárias, indústrias intensivas em tecnologia e de maior valor agregado, e intercâmbio empresarial.

Não é só em relação ao sistema educacional que as zonas urbanas e rurais se diferenciam; demais serviços públicos também não estão dispostos na mesma proporção e qualidade entre as regiões nos dois países. A renda per capita é significativamente díspar, reflexo da ineficiência (ou desinteresse) em distribuir de forma menos heterogênea os benefícios da ascensão econômica. No caso indiano há mais um agravante: a manutenção de uma sociedade organizada em castas. China e Índia assistem ao aumento do número de manifestações populares que criticam não só as falhas dos serviços públicos, como também o envolvimento de membros do governo em casos de corrupção e a desigualdade de renda intraregional e entre os setores da economia.

Desafios – Entre os fatores comuns que podem comprometer o crescimento sustentável de longo prazo de China e Índia, está a ausência de sistema de infraestrutura capaz de facilitar e reduzir os custos de produção e deslocamento de bens e indivíduos. Os gargalos estruturais são mais graves no caso indiano, em parte devido ao escoamento de recursos para financiar o déficit público. O país precisa lidar ainda com o alto índice de desemprego e reduzir o número de trabalhadores atuantes na economia informal. Programas de incentivo ao setor industrial e, conseqüentemente, a expansão da produção de bens e intensificação das relações comerciais, talvez sejam o caminho para acumular recursos e solucionar as altas taxas de desemprego do país.

Já o governo chinês tem como principais obstáculos o superaquecimento econômico e a manutenção de uma balança comercial mais equilibrada, a fim de reduzir tensões com seus parceiros comerciais, bem como a participação das exportações na formação do PIB chinês, de 38% em 2005. O desenvolvimento do mercado de consumo doméstico reduzirá a vulnerabilidade da China face ao surgimento de crises internacionais.

Outro fator que pode comprometer o crescimento chinês é a ineficiência do sistema financeiro, inclusive em razão da inexistência de mercado de capitais eficiente e confiável. No entanto, a abertura do sistema financeiro, parte do protocolo de acessão da China à OMC e com prazo de implementação finalizado em dezembro de 2006, pode ser uma forma de aprimorar o sistema. A partir dessa data, bancos internacionais adquiriram direito de operar em moeda local. Ainda que seja considerada ameaça à saúde dos bancos locais em longo prazo, no curto prazo não devem oferecer perigo aos bancos domésticos, não só pelo alto grau de penetração das agências públicas, como também pela própria confiança dos cidadãos chineses nos bancos domésticos. China e Índia seguiram dois padrões distintos de crescimento, com riscos e méritos ímpares. Apesar de a evolução de suas economias dependerem dos rumos de suas políticas domésticas, não restam dúvidas da legitimação de cada um desses gigantes como plataformas de produção e serviços, bem como mercados consumidores em potencial, que não poderão ser ignorados no século XXI.| Por: CEBC

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