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18/06/2009 - 11:31

A revolta dos bichos

Já enfrentamos de tudo: pestes, revolução francesa, revolução russa, guerras frias e "quentes" pra valer, bombas atômicas, tsunamis e tantas coisas com as quais sequer sonhávamos.

Tivemos que compreender que "vaca louca" não é aquela vaca que, num rompante, sai correndo em disparada pelo pasto, arrebentando cercas, sem motivo aparente. A doença (não a vaca) tirou o sono de muitos pecuaristas, encheu o bolso dos nossos, e nos fez trocar a carne de vaca pela de frango.

Combatida a gripe espanhola, no início do século XX, era de se esperar que o século XXI nos trouxesse a gripe japonesa, a gripe angolana, a gripe indiana, ou de qualquer outra nacionalidade. No entanto, fomos surpreendidos pela gripe aviária, que nos obrigou a uma nova mudança de cardápio. Saiu a carne de frango e voltou a carne de vaca, e aí é que as vacas ficaram loucas mesmo!

Agora, antes que nos atingissem as gripes comuns de inverno, as gripes alérgicas, decorrentes da poluição, temos que enfrentar a gripe suína - mais uma praga do mundo moderno.

Aquela cena bucólica das fazendas, com pastos a perder de vista, vacas com sininho no pescoço, a grande porca cor-de-rosa com uma dezena de porquinhos sugando seu leite, já não existe mais. Vacas, galinhas e porcos se tornaram mais temidos do que os tigres e leões dos zoológicos. Antes, buscávamos refúgio para o caos urbano de cada dia na paz e aconchego de um hotel-fazenda. Mostrávamos aos pequenos que o leite sai da vaca e não vem pronto, em caixinhas; que a galinha pode ser mais feliz bicando minhocas do que dividindo uma cela apertada com uma companheira; que as grandes porcas de ventre cor-de-rosa podem servir para outra coisa além de guardar moedas. Hoje, porém, é melhor ficarmos em casa ou caminhar na orla de manhã.

Aqueles animaizinhos inocentes que víamos ruminando pacientemente sua rotina, conformados com migalhas ou restos de comida, repentinamente se revoltaram e resolveram tomar uma atitude. Vamos nos vingar desses humanos, dizem eles! Agora é a nossa vez!

Acho que enfrentamos uma verdadeira Revolução Rural (nada a ver com o MST, por favor), uma Revolução dos Bichos como aquela antecipada por George Orwell. Ou seria um Movimento Campesino Anti-Globalização, liderado por Chiqueiro Guevara, Mao da Vaca Tse Tung, Curral Marx? Toda essa história de gripe suína pode ser um estratagema do Governo Mexicano para afastar estrangeiros, evitando que usem o México como um trampolim para os Estados Unidos, ou porque os hotéis de Cancún já estão superlotados de casais em lua-de-mel. Basta um espirro para espantar essa gente.

Pode ser também um Movimento Anglo-Pecuarista Pró-Latifúndio, uma reforma agrária às avessas, pois as vacas inglesas sabem que as vacas brasileiras, criadas em imensas pastagens, estão livres do mal que as acomete. Baseada no princípio do tratamento nacional, que não permite discriminação entre nacionais e estrangeiros, a bancada, digo, a boiada saxônica reivindica seus direitos, ou melhor, seu capim. Mas este é, sem dúvida, um problema para o Ministério da Fazenda resolver.

As galinhas, por sua vez, não dão um pio. Preferem acompanhar o assunto na mídia, torcendo para que Obama abra suas portas para o etanol brasileiro, senão vai faltar milho no mercado.

No final das contas, não escapou ninguém: nem vacas, nem galinhas, nem porcos. O que mais podemos esperar? Talvez a Revolução das Hortaliças, que aniquilará a humanidade com um agrotóxico de alto poder destrutivo. O morango e o pimentão liderarão o movimento, enfrentando forte resistência do Partido Verde. Tanto faz. Até lá quase todos nós já teremos morrido de gripe ou de fome...

. Por: Sandra Leis, Advogada

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