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11/04/2007 - 08:18

China e México: uma relação harmoniosa?

Em diversas ocasiões, e insistentemente desde 2006, o governo central da China tem apresentado a opção de estabelecimento de uma relação “harmônica” com seus principais parceiros comerciais. Este também foi o caso do México durante a visita de Hu Jintao, presidente da República Popular da China, em setembro de 2005. Em seu discurso ao Senado da República, Hu Jintao destacou a importância de se aprofundar a cooperação estratégica bilateral e multilateral, em áreas como ciência e tecnologia, cultura, educação, saúde, esporte e turismo, assim como economia e comércio, temas de maior relevância em sua proposta.

Quais foram os avanços a esse respeito desde o início de 2007, particularmente na área econômica e comercial? A República Popular da China é atualmente – e desde 2003 – o segundo parceiro comercial do México, atrás somente dos Estados Unidos. Entre 1993 e 2006, as exportações e importações chinesas cresceram a uma taxa anual média de 32,9% e 37,6%, respectivamente, o que tornou a China o parceiro comercial mais dinâmico do país durante o período e com as taxas de crescimento do comércio bilateral superiores ao incremento total do comércio. A relação com a China intensificou-se particularmente após 1999, o total comercializado ultrapassou US$ 2 bilhões no período e US$ 26,134 bilhões em 2006.

Com base nestas tendências – e incluindo somente o comércio legal de produtos – o México registrou déficit comercial de US$ 22,754 bilhões em 2006, o maior de sua história com a China. Como resultado, o coeficiente de importações sobre as exportações da China foi de 16,4 em 2006, em outras palavras, para cada unidade exportada para os chineses em 2006 importamos 16,4. Paralelamente a este processo de rápido crescimento comercial é registrado um aumento significativo dos investimentos mexicanos na China – liderado por um relativamente pequeno grupo de grandes empresas como Bimbo e Gruma – e de empresas chinesas estabelecidas no México em setores como têxteis, autopeças, eletrônicos e confecções, entre outros. Esses investimentos, até o presente momento, não foram contabilizados.

Não obstante este enorme potencial de gozar de uma efetiva “harmonia” e cooperação estratégica de longo prazo, na atualidade nos deparamos com uma relação – particularmente no âmbito comercial – tensa e repleta de obstáculos, na qual se destacam: 1. O México foi o último dos 37 países a firmar acordo comercial com a China para permitir sua adesão à OMC, em 2001.

2. Até o momento, o México não negociou e não concedeu status de economia de mercado à China no âmbito da OMC, e é praticamente um dos últimos países a manter essa postura na região.

3. Em conseqüência às negociações bilaterais com a China para seu acesso à OMC, o México acordou que o país não será submetido às disposições da OMC para cerca de 1.300 produtos, em alguns casos foram impostas tarifas superiores a 1000%. A partir de 1º de janeiro de 2008, a China poderá impugnar a aplicação destas quotas compensatórias em setores e produtos sensíveis para o México, tal como foi apresentado em diversas ocasiões nesta coluna.

4. Por último, ao final de fevereiro de 2007, o México iniciou consultas no âmbito da OMC para solicitar explicações e justificativas sobre programas de incentivos do governo chinês às empresas instaladas no país – em especial às empresas estrangeiras – que estabelecem devolução, redução e isenção de impostos e outros encargos fiscais por meio de programas de política comercial, industrial, ciência e tecnologia, entre outros. Esta medida, sem dúvida alguma, questiona um aspecto medular do êxito alcançado pela China nas últimas décadas e dos instrumentos propostos para a estratégia anunciada pela Assembléia Popular Nacional e pelo Partido Comunista da China, apresentada no 11º Plano Qüinqüenal (2006-2010), que tem como objetivo consolidar um processo igualitário e menos polarizado.

É nesse sentido que uma potencial relação estratégica, harmônica e de longo prazo com o nosso segundo parceiro comercial parece estar longe. Se bem existem os mecanismos formais e informais para aprimorar a cooperação bilateral – particularmente no marco da Comissão Bilateral China-México e do Grupo de Alto nível (GAN) entre ambas as nações – no momento estes não têm recebido atenção suficiente e apoio por parte das instituições públicas e privadas responsáveis; em especial a GAN tem um enorme potencial para solucionar de forma ágil problemas bilaterais, mesmo que a maior parte de sua agenda, no momento, não tenha saído do papel. Temas governamentais, triangulação de mercadorias, importações ilegais, incapacidade de estabelecimentos de vôos diretos entre os dois países, excessivo custo e burocracia para obtenção de vistos, dificuldades no setor têxtil e oportunidades em outras áreas – como mineração, eletrônica, autopeças e automotores – e a falta de uma estratégia de turismo bilateral revelam que ambas as nações, até o momento, não prestaram atenção suficiente em seu relacionamento bilateral. O fato de termos ficado vários meses sem Embaixador na China contribuiu para o aprofundamento dessas dificuldades.

É, então, fundamental realizar investimentos e qualificar trabalhadores para melhorar a relação com o nosso segundo parceiro comercial, cuja importância global continuará em ascensão, com ou sem o México. Quem irá assumir a liderança das relações sinomexicanas? Os setores público, privado e acadêmico, juntos, precisam estabelecer imediatamente uma estratégia de longo prazo que busque de forma efetiva gerar bases para uma cooperação harmônica. No momento, ao contrário de ser harmônico, o relacionamento reflete um choque de interesses, incluindo, no curto prazo, no âmbito da OMC, a recente solicitação do México, bem como a possível impugnação de quotas compensatórias por parte da China a partir de janeiro de 2008..

. Por: Enrique Dussel Peters, professor de Pós-graduação de Economia na Universidade Nacional Autônoma do México e Coordenador do Centro de Estudos China-México (http://dusselpeters.com)./CEBC

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