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11/04/2007 - 08:19

Quais as causas para o rápido crescimento econômico da China?

A China vem crescendo, em média, a mais de 9% ao ano nos últimos 28 anos, sendo que, nos últimos 5 anos, a taxa média atingiu cerca de 10%. Para este ano, apesar de alguns analistas esperarem algum arrefecimento, os números mais recentes 3“The times they are a-changin”, composição de Bob Dylan de 1964. O artigo resume em parte trabalho mais amplo de autoria de Marcelo Nonnenberg, Paulo Levy, Fernanda De Negri e Katarina Costa, a ser publicado em breve como TD pelo IPEA. Nele mostram que o ritmo de crescimento real do produto aproxima-se de 11%. Não obstante ser um ritmo impressionante, não constitui caso único na história econômica mundial. Entre 1950 e 1973, o Japão e Taiwan cresceram mais de 9% ao ano enquanto a Coréia do Sul e Hong Kong cresciam cerca de 8% ao ano. Ainda assim, a China surpreende não apenas pela velocidade como pela duração e pela expectativa de que o crescimento econômico poderá manter o atual ritmo por algum tempo.

É comum atribuir esse crescimento a uma conjugação de baixos salários e a investimentos externos diretos ou à falta de proteção à propriedade intelectual. Contudo, não será difícil, em especial após 1990, encontrar outros exemplos de países que receberam fortes doses de investimentos externos e possuíam baixos salários, bem como exerceram diferentes formas de propriedade intelectual. Portanto, quais os fatores que permitiram e ainda permitem a existência do milagre chinês? Talvez seja o caso de considerá-lo uma combinação única de fatores históricos, geográficos, políticos e econômicos, que dificilmente se repetirá. O objetivo aqui, devido à limitação de espaço, é simplesmente listar esses fatores, deixando para outro artigo, mais amplo, uma análise rigorosa desse processo. Em primeiro lugar, está a proximidade geográfica e cultural entre China e Hong Kong. Este pequeno território, como mencionado acima, cresceu velozmente nas décadas de 1950, 1960 e 1970.

A continuidade desse processo, obviamente, dependia da incorporação de novos territórios. O governo chinês percebeu a oportunidade e criou, em 1980, quatro Zonas Econômicas Especiais, não por acaso, todas próximas ou muito próximas a Hong Kong. E, dois anos antes, já havia iniciado o processo de liberalização do comércio exterior, com forte redução de tarifas, ao lado do início do processo de liberalização do sistema de preços na agricultura.

O segundo aspecto refere-se às elevadas taxas de poupança doméstica, em grande parte responsáveis por taxas de juros relativamente baixas, reduzindo o custo de financiamento do capital. Esse baixo custo contribui para a viabilização de um grande número de investimentos, boa parte dos quais dirigidos à construção civil, estimulada, por sua vez, pelo acelerado processo de urbanização.

Em terceiro lugar, o aumento dos fluxos de investimentos diretos. Esses investimentos foram atraídos para a China, principalmente entre 1980 e 2000, pelo desenvolvimento das Zonas Econômicas Especiais. Essas áreas recebiam e recebem diversos incentivos fiscais, terrenos e edificações; localizam-se ao lado de fornecedores e de outras indústrias semelhantes, além de centros de pesquisa, incubadoras de empresas, laboratórios de ponta; a infra-estrutura de energia e transporte é altamente satisfatória e com tarifas subsidiadas.

Em quarto lugar, está o baixo custo da mão-de-obra. Por ser a oferta deste fator quase infinitamente elástica, o aumento da demanda não provocou, principalmente nos segmentos de baixa qualificação, elevações substanciais nos salários. Além disso, os trabalhadores chineses possuem uma concepção de hierarquia e disciplina que, aliada à proibição da criação de organizações de empregados, dificulta tremendamente a sua organização e a possibilidade de exercer pressões por aumentos de salários. Finalmente, inexistem mecanismos de regulação das relações de trabalho e direitos trabalhistas.

Em quinto lugar, pode-se mencionar a falta de respeito com a propriedade intelectual. Para ingressar na China, até recentemente, as empresas multinacionais (EMNs) necessitavam de um sócio local. Há diversos relatos de que esses sócios apropriam-se ilegalmente do conhecimento transferido do exterior para produzir por conta própria, em outra empresa (doméstica), produtos análogos – muitas vezes com qualidade inferior à do original – por preços inferiores. Outra forma conhecida de pirataria intelectual é a produção (e exportação) de bens de consumo de marcas famosas, como confecções, artigos de couro e perfumaria, sem pagamento dos royalties devidos. Contudo, para copiar, com sucesso, o processo de fabricação, não apenas de roupas e brinquedos como também de automóveis e produtos eletrônicos, é necessária a existência de uma forte indústria local e de mão-de-obra qualificada.

Elementos adicionais para a atração dos investimentos externos têm sido a grande estabilidade e previsibilidade das políticas macroeconômicas na China no período em análise. Os sucessivos governos chineses mantiveram políticas de estímulo ao crescimento sem, contudo, deixar a inflação escapar do controle. De 1985 em diante, apenas em 1989 e no período 1993-1995 a inflação anual, medida pelos preços ao consumidor, ultrapassou os 10%. Em ambos os momentos, o governo adotou medidas que desaceleraram o crescimento industrial e os investimentos, contribuindo para reduzir as pressões inflacionárias.

Em sétimo lugar, um aspecto pouco explorado da economia chinesa é a existência de economias de escala, com fortes impactos sobre redução de custos médios de produção. Esse fator é particularmente importante em indústrias como a siderúrgica, a de cimento, veículos e química.

Finalmente, podem ser mencionadas duas medidas de política econômica. Primeira, a manutenção de uma moeda desvalorizada, que contribui para estimular as exportações. A contrapartida é uma forte acumulação de reservas e, em seguida, uma elevação da dívida pública. Contudo, a folgada situação fiscal da China permite a continuidade dessa política ainda por algum tempo. Segunda, a liberalização do sistema de preços, com a substituição de mecanismos de determinação centralizada pelo mercado, contribuindo para o aumento da eficiência da economia.

. Por: Marcelo José Braga Nonnemberg é diretor de Pesquisa e Estudos Macroeconômicos e coordenador do Grupo de Estudos sobre China do Instituto de Pesquisa de Economia Avançada (IPEA)./CEBC

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