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01/07/2009 - 10:48

Conferência internacional discute ajustes nas relações entre a América Latina e a China

Os maiores especialistas mundiais em expansão global chinesa nos países latino-americanos estiveram reunidos no dia 30 de junho (terça-feira), na sede da Fecomércio, em São Paulo, para participar da 3ª Conferência Internacional Presença da China na América Latina, promovida pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). Ao longo do dia foram identificados os impactos dessa presença para as empresas brasileiras, oportunidades de parcerias, setores estratégicos e a evolução do relacionamento político estratégico entre a China e a região. Ao final do evento ficou a constatação de que ainda há muito desconhecimento sobre o mercado chinês.

A abertura oficial do evento contou com as presenças do embaixador da República Popular da China no Brasil, Qiu Xiaoqi; e dos representantes dos Ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ivan Ramalho, e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Célio Porto; e pelo secretário-executivo do CEBC, Rodrigo Maciel.

“As empresas latino-americanas de uma maneira geral não têm uma estratégia definida para atuar no competitivo mercado chinês. Já os chineses têm uma clara estratégia de comprar matéria-prima e commodities que garantam seu crescimento econômico, além, claro, de conquistar novos mercados nos países da região. É fundamental incluir a China no planejamento corporativo, a fim de melhor compreender mudanças decorrentes da ascensão do país asiático no cenário internacional, bem como suas implicações ao empresariado brasileiro”, comentou Rodrigo Maciel.

O primeiro painel, na parte da manhã, envolveu Daniel Lederman, economista sênior do Banco Mundial; David Shambaugh, professor de ciências políticas e relações internacionais da George Washington University; e Gonzalo Paz, consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O tema em debate era a presença da China na América Latina.

Daniel Lederman fez um alerta. “Os países latino-americanos precisam rever suas prioridades e estratégicas de desenvolvimento, investindo em educação, pesquisa e desenvolvimento e, em níveis diferentes, reorganização industrial. China e Índia superaram os países latino-americanos ao início do século em número de registro de patentes, contrariando tendência histórica, reforçando a necessidade de repensar políticas. Em outras palavras, é preciso priorizar vantagem competitiva em setores que, até então, não configuravam entre as prioridades governamental e privada da América Latina. É fundamental também rever políticas de promoção de exportações”, disse.

Na parte da tarde, mais dois painéis, O primeiro, composto por Rhys Jenkins, professor de desenvolvimento econômico da School of Development Studies da University of East Aglia; e Jiang Shixue, vice-presidente da Associação de Estudos sobre América Latina da Academia Chinesa de Ciências Sociais. O segundo reuniu os brasileiros Octavio de Barros, diretor de Pesquisas Econômicas do Banco Bradesco, e Ilan Goldfajn, economista-chefe do Banco Itaú-Unibanco.

O professor chinês Shixue reforçou a necessidade de maior conhecimento entre os países para que o ambiente seja aprimorado. “Se o Brasil desejar que as promessas de investimentos chineses se concretizem, será necessário que haja mudanças significativas de forma a assegurar que episódios como o da Baosteel não se repitam”, afirmou o palestrante, criticando a suspensão pelo governo brasileiro da licença concedida ao projeto da Baosteel no Brasil em parceria com a Vale.

Já os especialistas brasileiros procuraram destacar que as economias brasileira e chinesa continuarão apresentando sinais de crescimento. Octavio de Barros lembrou que a projeção de crescimento da China para 2009 é de 7,8% e de que há um consenso de 8,5% para o ano que vem. “O potencial de consumo da população chinesa, principalmente entre os jovens, é muito forte”, destacou. Já Ilan Goldfajn disse que os dois países nasceram um para o outro. “A China é cara metade do Brasil. Importamos produtos manufaturados e exportamos commodities. Para o casamento perfeito é importante não só aprimorar as relações de comércio exterior como as relações de investimento porque hoje o grande desafio do mundo é encontrar consumidores”.

CHINA - O relacionamento da China com países da América Latina se aprofundou significativamente nos últimos anos. De 2000 a 2007, a corrente comercial entre o país asiático e o continente aumentou aproximadamente 10 vezes e, passando de US$ 12 bilhões para mais de US$ 140 bilhões em 2008. A explosão do comércio bilateral foi acompanhada por maior aproximação política, intensificação do intercâmbio cultural e militar, bem como aumento do fluxo de investimentos diretos na região latino-americana. A “descoberta” da América Latina pela China se deu em razão, sobretudo, de sua sede por commodities capazes de sustentar ritmo de expansão de sua economia. Contudo, no continente, o país asiático encontrou não somente fornecedores estáveis desses produtos, como também mercados consumidores em potencial à sua indústria.

O Brasil foi o maior parceiro comercial da China na América Latina em 2008. No mesmo ano, o comércio sino-brasileiro alcançou US$ 36,4 bilhões e, até outubro, o Brasil ocupava o décimo quarto lugar no ranking de maiores parceiros comerciais do país asiático, segundo estatísticas do Ministério do Comércio da China. O país asiático, que encerrou 2008 como segundo maior parceiro comercial brasileiro, de janeiro a abril de 2009 já era o maior destino das exportações do Brasil.

Surpreendentemente, em momento em que a crise econômica mundial desaqueceu o comércio internacional e reduziu a demanda dos principais compradores dos produtos brasileiros, as exportações brasileiras para a China crescem 34,4%. Enquanto as exportações brasileiras apresentaram redução significativa, a demanda chinesa por commodities levou o país asiático a ser o único entre os principais destinos para onde as exportações do Brasil aumentaram.

A presença da China na América Latina se concretiza, no entanto, de diferentes formas que não essencialmente por meio do comércio internacional. Acordos, parcerias, investimentos e empréstimos proliferam em setores de infraestrutura, agrícola e energia. Com o Equador, a China recentemente confirmou investimentos para expansão de hidroelétrica a fim de reduzir dependência energética equatoriana de seus vizinhos. Com o governo venezuelano, há um fundo bilateral avaliado em US$ 12 bilhões para financiamento de projetos agrícolas, infraestruturais e energéticos, dos quais construção de refinarias e unidades de prospecção de petróleo já está em andamento. Chile e Peru, países com os quais a China já assinou Tratado de Livre Comércio, têm o setor de mineração como prioridade entre os investimos e empréstimos chineses.

Com o Brasil, por sua vez, os setores mais atrativos ao país asiático são bastante similares. Entre memorandos de entendimento envolvendo empresas do setor de mineração dos dois países, parcerias tecnológicas em usinas hidrelétricas, termoelétricas e coquerias, e construção de infraestrutura de transporte de gás natural ao sudeste brasileiro, a presença da China no país não surpreendentemente é marcada também pela garantia de fornecimento de ativos estratégicos em médio e longo prazo.

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