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02/07/2009 - 12:18

Matriz de transporte – benefícios do uso da ferrovia


Passado mais de uma década da privatização das nossas ferrovias, é hora de algum comentário. Entenda como privatização, a sua entrega à operação pela iniciativa privada. Os ativos continuam sendo do Estado, que é a pior parte desse processo.

O mal desse tipo de entrega é que a concessionária investe no que não é dela. Isso quer dizer que os investimentos, de bilhões de reais, serão do Estado no caso da concessão não ser renovada. O mesmo sistema infeliz da privatização portuária.

Os problemas, como se sabe, são pelo menos de duas ordens. O primeiro é que todo investimento deve dar retorno durante o período de concessão. Isso implica no encarecimento das operações ferroviárias, como já ocorre nas portuárias. Caso o ativo fosse dos investidores, é provável que houvesse um barateamento dos serviços de transporte.

O segundo fica por conta dos próprios investimentos e sucateamento do ativo, com evidente redução da qualidade das operações. Ninguém irá investir nos últimos anos de uma concessão, sabendo que aquilo não é seu e com possibilidade de retomada pelo poder concessionário. É necessário lembrar da falta de previsibilidade e regras fixas do País. Vide a questão portuária e os retrocessos que sempre se procura impor aos terminais privatizados.

De qualquer modo, como o empresariado nacional tem vocação para herói, temos visto progressos, como a redução dos custos das operações. A produtividade também cresceu muito, com ambos beneficiando o usuário, a economia e o comércio exterior. Contudo, é preciso que o governo federal entre com recursos a fundo perdido, para ajudar as ferrovias.

Todos têm consciência de que quando se repassa algo para alguém, ele deve estar em plenas condições de exploração e não foi o que ocorreu com nossas privatizações. O concessionário deveria entrar produzindo, fazer a manutenção e melhorar o ativo de modo a entregá-lo nas mesmas condições.

Obrigar o concessionário a devolver a empresa completamente reformada e com ativos em perfeita ordem não é justo. Mas, de qualquer modo, a ferrovia já apresenta grandes e indiscutíveis resultados, inclusive lucro, e é preciso incentivá-la e aproveitá-la.

Sendo a ferrovia um modo de transporte mais barato que a rodovia, a mercadoria pode chegar às prateleiras com custo menor, podendo ter preço menor de venda. Com preços menores, o poder aquisitivo da população, dado pela sua renda disponível, sobe, sem qualquer aumento salarial, permitindo a compra de mais unidades.

A conseqüência disso seria direta, com mais consumo, o que obrigaria ao aumento da produção. O resultado seria dado na forma de maiores investimentos no aparelho produtivo e aumento do emprego, gerando mais renda disponível na economia. Estaria estabelecido o que se chama de círculo virtuoso da economia.

Outro resultado, com a economia girando mais, seria a maior arrecadação de impostos, dando ao Estado a possibilidade de mais investimentos em infra-estrutura geral, o que beneficiaria a todos. Isso poderia provocar uma redução da carga tributária percentual.

O país precisa voltar-se para a mudança da matriz de transporte, que é uma das formas de crescimento sustentado. A melhoria da logística interna fará milagres pela nossa economia interna e pelo comércio exterior. A logística é, hoje, a última fronteira para a melhoria de nossos processos e distribuição de mercadorias. É necessário se enquadrar no que há de melhor no mundo.

O investimento na ferrovia é urgente. O Brasil tem menos de 20% da malha ferroviária da terra do tio Sam e em piores condições. Em 1948, havia 35 mil quilômetros de ferrovia, reduzidos a 29.000 quilômetros hoje.

As concessionárias estão fazendo sua parte e é preciso que o governo faça a sua. É necessário que os usuários descubram e prestigiem a ferrovia de modo a tornar o país melhor. Até a qualidade de vida seria melhorada com a retirada de boa parte dos veículos rodoviários das vias públicas, reduzindo o investimento em estradas, poluição, etc.

É preciso que o transporte rodoviário, o mais versátil de todos, tenha uma utilização mais nobre, fazendo pequenos trajetos, viabilizando melhor a intermodalidade e a multimodalidade, bem como os trajetos peculiares.

. Por: Samir Keedi, economista, mestre em administração, consultor e professor da Aduaneiras.

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