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14/07/2009 - 12:11

Um passo à frente

Os indicadores atuais não estão muito favoráveis para que os analistas se sintam aptos a escrever de forma positiva sobre a situação. Sejamos realistas e não inocentes: a conjuntura difícil é um fato incontestável.

O dólar oscilando a cerca de dois reais, não é um fator de estímulo às exportações, principalmente para pequenas e médias empresas. São estas companhias, inclusive, que, de forma relativa, acabam sentindo toda a amplitude das atuais mazelas cambiais vividas pelo conjunto dos setores exportadores.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior também não são os melhores. Apenas para citar um, em 2008, 580 empresas com exportações de até um milhão de dólares anuais interromperam suas operações no exterior. Junte-se a este caldeirão o momento de instabilidade econômica mundial, e a alquimia apocalíptica aparece com toda sua intensidade. O palco para os “catastrofistas” está completo.

O que temos a recomendar? Primeiramente, cautela nas análises. Não é o momento para verdades absolutas ou muito menos futurologia. As crises passam, não há novidade nesta máxima. Definir o início, o ápice e o fim, é exatamente o que todos, pessoa física e jurídica, gostaríamos de ler e ouvir por meio da mídia. Em tempos de sociedade de informação, onde a crise passa muito mais pelas fibras ópticas do que pelas filas dos bancos, fica difícil estabelecer uma data precisa para a inversão do atual momento.

As projeções otimistas indicam um segundo semestre mais azul. Já as mais pessimistas deixam para o ano novo algum refrigério. Mas também é um fato que hoje, principalmente no Brasil, já temos indicadores de que começamos a ver a luz no fim do túnel. Percebermos que o País passa pela crise — passa bem ou pelo menos melhor do que muitos países de economias centrais.

Um segundo aspecto é que, apesar de tudo, devemos ser muito menos imediatistas e muito mais estrategistas. Digo sempre que a área internacional é menos operação e mais estratégia. Uma análise da situação, mesmo que imediata, é fundamental. Seria uma irresponsabilidade não perceber a necessidade de medidas de ajustes para diminuir o impacto da crise e da inflexão no mercado externo. Mas também não podemos apenas pensar no curto prazo.

As empresas, sobretudo as do novíssimo mundo latino-americano, têm este péssimo hábito de pensar apenas no hoje. O refluxo internacional ou ondas protecionistas são movimentos naturais em momentos de crise. Mas não podemos ficar só nisso, neste imediatismo que reage a uma situação passageira e — não poucas vezes — nos faz pensar que o mercado doméstico, e tão somente ele, é a tábua de salvação de um barco que nunca deveríamos ter abandonado. Pelo contrário, agora é o momento das empresas que estão repensando sua inserção no mercado externo voltarem a pensar nas suas estratégias para vender ao Exterior.

Parece paradoxal que no momento de maré baixa alguém venha dizer que urge estratégias para ampliar a participação no mercado internacional. Mas não é. A lógica é simples: se tivermos certeza que a crise é momentânea e a globalização veio para ficar (obviamente agora em outras bases), não podemos ser imediatistas.

Precisamos pensar o mercado internacional de forma estratégica. Se o curto prazo me força a um retrocesso, o que farei no médio e longo prazo, quando este recuo da economia não mais se justificar? Esperar a concorrência estrangeira entrar em um apetitoso mercado nacional como o brasileiro ou me adiantar aos fatos e traçar um caminho seguro e planejado para o mercado exterior? Tenho certeza que o leitor concordará que a segunda opção é a única resposta coerente.

Dar um passo atrás no momento de crise e um à frente na estabilidade pode parecer um avanço, mas no fundo é apenas a movimentação de alguém que, no fundo, não saiu do lugar. Agora, dar um passo atrás na instabilidade e planejar dois passos à frente quando ela passar, isto sim é um avanço substancial.

. Por: Olavo Henrique Furtado, consultor do Núcleo de Negócios Internacionais da Trevisan Consultoria e coordenador dos cursos de pós-graduação e MBAs da Trevisan Escola de Negócios. | E-mail: [email protected]

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