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23/07/2009 - 10:22

A violência urbana no Brasil é uma guerra a ser combatida pelo exército?

“As Forças Armadas têm um repertório de capacidades muito grande, que pode ser utilizado contra grupos armados, sejam eles do interior da selva amazônica, da área fronteiriça ou de uma área urbana ocupada por alguma facção criminosa”. Alessandro Visacro.

A violência urbana brasileira sempre foi reconhecida por matar mais que muitos confrontos de guerrilhas. Só no Rio de Janeiro, entre o primeiro mês de 2009 e abril, morreram 2.237 pessoas vítimas de homicídios, contra 2.045 no primeiro quadrimestre de 2008. Um crescimento de 9,4%, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP). Para se ter uma ideia, o ETA, na Espanha, matou 600 pessoas entre 1968 e 1991. O ranking das cidades mais violentas do país tem o Rio de Janeiro em primeiro, seguido de São Paulo em segundo e Recife em terceiro. Recentemente a ONU classificou o país com um dos mais elevados índices de homicídios do mundo, com mais de 48 mil mortes a cada ano.

Para o major do Exército brasileiro Alessandro Visacro, o Brasil vive uma verdadeira guerra urbana. Ele é o autor do livro Guerra irregular – terrorismo, guerrilha e movimentos de resistência ao longo da história, lançado pela Editora Contexto, e defende que as Forças Armadas devam entrar nessa batalha. Para Visacro, um profundo estudioso do assunto, a escalada do crime nas grandes cidades do país está diretamente ligada ao narcotráfico e ao desordenado crescimento urbano. Pessoas migraram das zonas rurais e foram jogadas em locais sem infraestrutura e condições sociais.

“As verdadeiras origens da violência urbana vão muito além do narcotráfico ou do crime organizado”, diz o autor. Ele completa lembrando que o poder público não dispõe de políticas e recursos orçamentários que lhe permitam combater efetivamente a violência em sua origem. Com isso deixa-se aberta a porta para o crime organizado se instalar e se utilizar das pessoas desassistidas pelo Estado.

Entremos, então, numa questão polêmica: como combater essa verdadeira guerra irregular que acontece nas principais metrópoles do país? O mercado consumidor interno de drogas ilícitas se expande e com ele o patrocínio aos segmentos armados do narcotráfico. Os números alarmantes de mortes que citamos no início do texto são consequência dessa guerra e da fragilidade das políticas empregadas. O sistema carcerário é frágil, assim como o aparelhamento das polícias não faz frente ao poderio bélico dos traficantes. As questões de segurança gastam 14% do nosso PIB anualmente, cerca de R$ 55 bilhões, valor que não é suficiente. Estamos perdendo batalhas todos os dias.

Em Guerra irregular, Visacro mostra que a presença militar, mais preparada para ações de conflito, pode ser uma solução. Mas ele alerta que é preciso ter muito cuidado, as pessoas costumam discutir se é importante ou não colocar o exército nas ruas num âmbito leigo e movido por acontecimentos pontuais. Segue um trecho do livro.

Portanto, tentar reduzir um problema tão complexo a uma mera questão de segurança pública é um grande equívoco ou uma conveniente forma de omissão. Restabelecer a segurança e a presença do Estado, garantindo a lei, a ordem e o pleno funcionamento das instituições políticas e sociais, em áreas urbanas superpovoadas e carentes, que se encontram sob o domínio de grupos armados organizados, não merece uma abordagem tão limitada, nem pode aguardar passivamente pela alteração de profundas distorções socioeconômicas, que demandariam um tempo excessivo. Em oposição ao que muitos críticos advogam, as operações militares contra segmentos armados do crime organizado, particularmente o narcotráfico, não constituem um desvio da atividade fim das forças armadas. Ao contrário, são em sua essência, a própria atividade fim, pois guerrilha urbana e narcoterrorismo tornaram-se parte da realidade nacional.

Visacro segue uma lógica praticada ao longo do tempo, em todos os países que combateram ou combatem o terrorismo: se o terror é combatido pelas Forças Armadas, o crime organizado deve ter o mesmo tratamento.

O fato é que o Brasil vive efetivamente uma guerra irregular contra o narcotráfico, gerado pelo desordenado caos urbano e a falta de ação do Estado nas questões sociais. Guerra irregular é uma obra essencial para entender os problemas que enfrentamos e como podemos aprender com a História a organizar o futuro e vencer essa guerra urbana.

Alessandro Visacro é oficial das Forças Especiais do Exército Brasileiro. Graduou-se pela Academia Militar das Agulhas Negras no ano de 1991. Exerceu as funções de oficial subalterno no 29º Batalhão de Infantaria Blindado (Santa Maria – RS) e no 26º Batalhão de Infantaria Paraquedista (Rio de Janeiro – RJ). Ingressou nas forças de operações especiais em 1997. Serviu no 1º Batalhão de Forças Especiais, onde foi instrutor dos cursos de ações de comandos e forças especiais. Na cidade de Manaus (AM), foi designado oficial de operações e, posteriormente, comandante da 3ª Companhiade Forças Especiais, tropa diretamente subordinada ao Comandante Militar da Amazônia.

. [ Livro: Guerra irregular – Terrorismo, guerrilha e movimentos de resistência ao longo da história | Autor: Alessandro Visacro | Formato: 16 x 23 cm; 384 páginas | Preço: R$ 49,00].

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