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05/08/2009 - 09:48

A “Grande Mentira”

Man ging dabei von dem sehr richtigen Grundsätze aus, daß in der Größe der Lüge immer ein gewisser Faktor des Geglaubtwerdens liegt (...). -- Adolf Hitler

A campanha do Centro Nacional de Navegação Transatlântica contra os preços das praticagens brasileiras, preços estes "exuberantes" para o diretor-executivo da entidade, Elias Gedeon, demonstra quanto fascínio a técnica da "Grande Mentira" pode exercer sobre envolvidos em uma situação de crise.

A "Grande Mentira" é uma ferramenta de propaganda identificada por Hitler em seu livro Mein Kampf ("Minha Luta"), de 1925, e pode ser expressa, em termos simplificados, assim: é mais fácil tornar crível uma mentira grande do que uma pequena, porque poucos acreditariam que um ser humano poderia manipular a verdade de forma tão "colossal".

Hitler avisa que persistência e simplicidade são condições fundamentais ao sucesso da "Grande Mentira". E é exatamente isto que o Centronave tem feito ao longo do tempo: oferecer repetidamente à patuleia uma versão convenientemente editada da verdade, na qual a praticagem é um arcaísmo que obstaculiza a felicidade geral...

Insistem, por exemplo, em que a praticagem brasileira representa mais de 50% dos custos portuários.

Uma linha, duas manipulações dos fatos -- pelo menos.

A primeira está no significado da expressão custos portuários. Segundo o Relatório de Desempenho Portuário de 2008, da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), o custo de entrada e saída de navios, no qual a praticagem está incluída, é apenas um dos componentes das despesas portuárias, ao lado das tarifas portuárias e dos custos de movimentação de carga.

Trata-se de uma distorção grave, mas necessária para o surgimento da segunda, que trata do peso relativo das despesas com praticagem face ao conjunto das despesas portuárias.

Segundo o relatório da ANTAQ, os gastos com entrada e saída de navios no transporte de contêineres no Brasil representavam, em 2007, 27% do agregado das despesas portuárias -- item liderado pelas despesas de movimentação de carga, com 51% do total.

A praticagem, recorde-se, representa apenas uma parte destes 27% - há ainda despesas com rebocadores, agenciamento, despacho, tradução de manifestos e comunicação, entre outras.

Todas estas despesas portuárias fazem parte de um universo ainda maior, o dos custos relativos à viagem - a maior parte dos quais, conforme a consultoria britânica Drewry informa em Ship Operating Costs Annual Review and Forecast 2008/09, corresponde a gastos com combustíveis.

Diante destes fatos e dados, talvez seja aconselhável ao Centronave abandonar, por falida, a grande mentira contida na sua arenga contra a praticagem. Melhor: talvez seja o momento de deixar de lado esta tentativa quixotesca de transformar um serviço essencial em um negócio como outro qualquer.

. Por: Alexandre Gonçalves da Rocha, pós-graduado em Seguros Marítimos pela World Maritime University (Suécia), Bacharel em Ciências Naúticas pelo Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (Brasil), membro do The Nautical Institute (Reino Unido), Society of Naval Architects and Marine Engineers (EUA) e da PIANC – The World Association for Waterborne Transport Infrastructure (Bélgica). O autor também é diretor-presidente da Itajaí Práticos [ www.itajaipraticos.com.br] | E-mail: [email protected]].

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