Parlamento entrega Medalha Tiradentes post mortem a Dm Hélder Câmara

Um subversivo profeta da encarnação. Foi dessa forma que o cearense Hélder Pessoa Câmara foi apresentado durante as homenagens post mortem feitas a ele no dia 27 de agosto (quinta-feira), durante a entrega, pelo deputado Alessandro Molon (PT), da Medalha Tiradentes e do Título de Cidadão do Estado do Rio. Dom Hélder Câmara, que morreu há dez anos, passou parte de sua vida eclesiástica no Rio, onde fundou a Cruzada São Sebastião.

“Modesto e desprendido, ele conseguia fazer com que suas ideias fossem defendidas pelo outro, sem qualquer necessidade de fazer alarde sobre a autoria delas. Ele resistiu ao regime militar a favor dos direitos humanos e não hesitou em utilizar todos os meios possíveis para acabar com a tortura”, discursou Molon.

A Medalha Tiradentes entregue ao bispo, maior honraria concedida pela Assembleia Legislativa do Rio, foi recebida pelo arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta. “É uma honra poder receber esta medalha em nome de Dom Hélder. Fazer a memória é uma das coisas mais importantes do nosso tempo, pois nos ajuda a olhar com confiança o hoje e o amanhã”, comentou Dom Orani. Coube à Marina Bandeira, representante do Instituto Dom Hélder Câmara, receber o Título de Cidadão do Estado em nome do homenageado.

“Conheci Dom Hélder a contragosto, mas, quando percebi, estava participando das reuniões semanais que ele fazia. Ele encontrava o Cristo na pessoa do pobre e morreu sem ver uma de suas lutas em favor do planejamento familiar no Concílio chegar ao fim”, lembrou.

O reitor da Universidade Cândido Mendes (Ucam), Cândido Mendes, emocionou-se ao falar de Dom Hélder. “O que temos aqui hoje com essa homenagem é a comunhão dos santos: tanto ele quanto um irmão querido que foi Dom Luciano Mendes de Almeida morreram em um dia 27 de agosto. Dom Hélder queria uma igreja em sintonia com seu tempo, uma igreja da modernidade. E, na igreja da modernidade, ele é o sacramental da esperança, do espetáculo dentro da vida e da fé”, disse o decano. Logo após a fala do professor Cândido Mendes, o deputado Molon lançou a ideia para a criação de um instituto com o nome de Dom Luciano nos mesmo moldes do Instituto Dom Hélder Câmara, em Pernambuco, para onde serão enviados a medalha e o titulo entregues nesta quinta.

Dom Hélder Câmara, que foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz quatro vezes, começou sua vida sacerdotal em 1923, no Seminário Diocesano de Fortaleza. Foi nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro no dia 3 de março de 1952. Foi ordenado bispo, aos 43 anos, em 1952. Em 1956, fundou a Cruzada São Sebastião, com a finalidade de dar moradia decente à população carente e, em 59, fundou o Banco da Providência, cuja atuação se desenvolve no atendimento a pessoas que vivem em condições de miséria. Também participaram do evento na Alerj o diretor do Programa de Estudos Avançados em Ciência da Religião da Ucam, Luiz Alberto Gomes, e dos representantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Paulo Fernando Carneiro, e da Prefeitura de Petrópolis, Maria Helena Arrochellas.