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05/09/2009 - 08:33

Crescimento do pré-sal não reduzirá o papel das fontes alternativas de energia, afirma Maurício Tolmasquim


O crescimento da produção de petróleo a partir do pré-sal não reduzirá o papel cada vez mais importante das fontes alternativas renováveis na matriz energética brasileira. A afirmação é do presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), Maurício Tolmasquim, que abriu no dia 4 de setembro (sexta-feira), no Rio o seminário “O mercado de capitais e investimentos em fontes alternativas de energia”, promovido pela Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec-Rio).

Ele afirma que o papel do etanol será cada vez mais crescente em substituição da gasolina. Os automóveis flex fluel já representam 93% das vendas de carros novos, dos quais 75% dos proprietários usam etanol. Tolmasquim estima que para atender a demanda projetada para 2017, a produção de etanol deve crescer 150%, o que equivale a agregar mais sete milhões de hectares ao cultivo da cana-de-açúcar.

As PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) também ganharam impulso com o Proinfa: há 46 em operação (925,54 MW) e outras 16 foram leiloadas (282 MW). Dados da Associação Brasileira dos Pequenos e Médios Investidores em Energia Elétrica (APMPE), que congrega 75% das PCHs em operação mostram que dos 945 projetos 645 estão operando (2.998 MW), 76 estão em construção e 224 já têm autorização. Fábio Sales Dias, presidente da APMPE, alega, entretanto, que apesar do mercado ter potencial para R$ 125 bilhões nos próximos 15 anos (considerando o custo médio de R$ 5,5 mil/KW instalado), os entraves ambientais ainda são o maior obstáculo ao crescimento da PCHs. Nada menos que 23 usinas eólicas, com capacidade de 385 MW, estão operando, e o leilão de 25 de novembro ofertará mais 441 projetos (13,3 mil MW) de 11 estados (71,6% do Nordeste e 27% no Sul). “O setor de eólicas foi o que mais respondeu ao Proinfa. Este será o maior leilão já feito pela EPE”, frisa Tolmasquim.

Pré-Sal- O presidente da EPE afirmou que o principal destino do petróleo excedente do pré-sal deverá ser a exportação. E como o preço do petróleo no país tem paridade internacional, as térmicas movidas a óleo não são economicamente competitivas com as demais fontes. Lembrou que 87% da matriz de oferta de energia elétrica no Brasil em 2008 foram renováveis, enquanto no resto do mundo representaram 18% em 2006. Desse total, as hidrelétricas respondem por 82% no Brasil e por 16% no mundo e os derivados de petróleo por 3% e 6% respectivamente. Outro disparate é a contribuição do carvão e seus derivados altamente poluidores: enquanto no mundo responderam por 41% da produção de eletricidade em 2006, no Brasil, felizmente, só correspondem a 1,6% do total.

Ao dar as boas vindas aos participantes e palestrantes do Seminário, o presidente da Apimec-Rio, Luiz Guilherme Dias, chamou a atenção de investidores e analistas para a confortável situação brasileira em suprimento de energia. Além de já dispor de uma matriz energética fortemente apoiada em energias renováveis, o Brasil também desponta como o país com mais condições de avançar no desenvolvimento de fontes renováveis, como PCHs, eólicas e biomassa.

O gerente de Planejamento de Operação da ONS (Operador Nacional do Sistema), José Carlos Sili Salomão frisou o importante papel das energias alternativas na complementariedade e como elas podem ser integradas ao sistema elétrico brasileiro. Uma vez que a base da geração (hidrelétricas) está sujeita à sazonalidade (regime de chuvas) as demais energias limpas – em especial a biomassa e a eólica – têm sinergia com a hidráulica e são fundamentais para suprir o sistema. A biomassa, cujo auge de produção é de abril a outubro (safra da cana), supre justamente a baixa vazão dos rios; enquanto a energia eólica entra de junho a outubro, quando os ventos sopram mais fortes.

Segundo o presidente da CPFL, Wilson Ferreira Junior, os ventos no Nordeste aumentam exatamente quando baixa a vazão do Rio São Francisco. “O Ceará e o Rio Grande do Norte têm potencial de 12 mil GW de potência”, afirma Wilson Ferreira. E a safra de cana começa em novembro, quando termina a safra do Sudeste. A biomassa hoje responde por 1.000 MW durante a safra de 562 milhões de toneladas de cana. Na CPFL, a biomassa já representa 6% da energia comercializada.

Laura Porto, diretora da Iberdrola Renováveis, líder mundial em energia eólica, acredita que o potencial brasileiro passe de 300 mil MW. Lembrou que há cerca de 10 anos, quando foram iniciados os primeiros estudos ninguém imaginava que o setor pudesse crescer tanto. Tanto que o Plano Decenal tem uma inserção muito pequena das eólicas. A executiva lista algumas dificuldades à expansão das usinas, como os cuidados no arrendamento de terra e os entraves de conexão à rede de distribuição existente, em especial no Nordeste. Laura lembra que a exigência do governo de um índice de 60% de nacionalização dos equipamentos das usinas foi ‘substituído’ pelo imposto de 14% sobre a importação. “É preciso sinalização de longo prazo”, reivindica, em coro com Lauro Fiúza, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABE) ressaltando que, mesmo questionáveis na época, todos os programas de sucesso no Brasil foram fruto de decisão estratégica e de longo prazo, como as grandes hidrelétricas na década de 70, o Proálcool e a prospecção de petróleo em águas profundas, que resultou na descoberta do pré-sal.

Luiz Ricardo Renha, presidente da Brookfield Energia Renovável (ex-Brascan Energia), empresa com 110 anos no Brasil e que prioritariamente investe em hidrelétricas, afirma que o Brasil tem um potencial de R$ 118 milhões de oportunidade de investimentos em PCHs. Com potência instalada de 530 MW (32 usinas), a Brookfield Energia, que vem crescendo a uma média de 60% ao ano, tem projetos para agregar mais 700 MW em cinco anos. A empresa também vende cerca de 2,5 milhões de toneladas de carbono/ano.

Na parte da tarde, na mesa redonda sobre aspectos regulatórios, comercialização, tributação e tarifários, Daniel Carneiro, Coordenador do grupo de Trabalho da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine), defendeu prazo curto e definido para eventuais subsídios às fontes renováveis de energia. Por considerar já elevada a carga tributária do setor elétrico, condenou qualquer novo imposto ou contribuição para estimular os investimentos no setor. Mas defendeu a flexibilidade no uso dos recursos de Pesquisa e Desenvolvimento (1% da receita líquida das empresas geradoras, distribuidoras e transmissoras de energia), em apoio a projetos de energia renováveis. Daniel Carneiro pediu ainda - com apoio de Telmo Magadan, da Ventos do Sul, e de Rodolfo Valente, Diretor do Banco Standartd de Investimentos - uma política de governo para atrair mais fabricantes de equipamentos eólicos para o Brasil. Guilherme de Azevedo Dantas, pesquisador do Grupo de Estudo do Setor Elétrico (Gesel), da UFRJ, revelou que os modelos pesquisados indicam custos competitivos para as fontes de energia renovável, como bioeletricidade e eólica. Ambas, disse, devem ser consideradas pela sociedade como fontes de garantia de suprimento contínuo para enfrentar desequilíbrios do sistema hidrelétrico. Para isso, ele defende que o marco regulatório explicite a questão.

O painel sobre o mercado de capitais e as fontes de financiamento para o setor, no encerramento do seminário, revelou que o sistema financeiro mundial ficou muito limitado no apoio em operações de financiamento ou equitty para grandes projetos de infra-estrutura que exigem muito capital e retorno de longo prazo como a área de energia. Este foi um dos motivos pelos quais o BNDES tornou-se em 2008 o principal financiador mundial em projetos de energia renovável, que inclui grandes hidrelétricas (e suas linhas de transmissão), PCHs, eólicas, e projetos de geração de energia por queima de biomassa (bagaço e palhada de cana de açúcar). Lígia Chagas, gerente da área de infraestrutura do BNDES, informou que nos financiamentos para eólicas, os prazos chegam a 14 anos, com juros adequados. E lembrou que até dezembro, a compra de máquinas e equipamentos terá juros fixos de 4,5% ao ano. Houve quem lamentasse o tempo curto, pois o leilão das eólicas é em 25 de novembro.

Messias Pedreiro Neto, Superintendente do Banco Santander lembrou que o mercado financeiro internacional se estreitou muito em opções para financiamento e levantamento de capital em projetos de longo prazo. Situação confirmada por Rodolfo Valente, diretor de Projetct Finance do Banco Standard de Investimento. Com sede na África do Sul, o banco atua no Brasil desde 1998. Diante de Marcos Tisser, analista da Previ, maior fundo de pensão do país, que comandava a mesa, Rodolfo advertiu que o cenário de juros baixos no mundo e no Brasil deverá provocar a reeducação do investidor, para trocar a “zona do conforto” dos juros fixos e elevados, para uma postura de maior risco por parte tanto dos fundos de pensão brasileiros como internacionais, o que pode atrair capitais para novos projetos de energia alternativa. Ele disse que a crise financeira internacional não permitiu ao Brasil desfrutar das benesses da graduação de investimento para atrair investimentos participativos. Um dos obstáculos para a atração deste investidor é a falta de garantias nas fases de construção dos projetos, advertiram os dois banqueiros. [Site: www.apimecrio.com.br/alternativas].| Gilberto Cortes.

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