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12/09/2009 - 12:48

Consertam-se bolas de cristal

Se algum dia alguém vier a publicar nos jornais um anúncio com o título "Consertam-se bolas de cristal", provavelmente a procura será tão grande que o referido artesão não dará conta dos pedidos. Brincadeiras à parte, o fato é que as previsões e estimativas traçadas e divulgadas por especialistas do mercado econômico se aproximam mais do exercício da premunição do que da prática ponderada dos modelos matemáticos.

Mais uma vez, a grande maioria desses especialistas foi surpreendida pelos números da economia real, afinal, o PIB brasileiro cresceu 1,9% no segundo trimestre deste ano, quando comparado ao resultado dos primeiros três meses de 2009, segundo aponta o IBGE. Esta é a comprovação de que o Brasil saiu efetivamente da recessão, já que a economia havia recuado por dois trimestres seguidos: -3,4% no último trimestre de 2008; e -1% no primeiro trimestre deste ano, ambos percentuais em relação aos respectivos trimestres imediatamente anteriores.

Para quem não apostava na nossa indústria, é também surpreendente perceber que o setor teve evolução de 2,1% nos meses de abril, maio e junho ante os três meses anteriores. Um dos sinais dessa melhora foi o indicador relacionado ao nível de emprego industrial apurado pelo próprio IBGE, que teve em julho a primeira alta depois de nove meses seguidos de retração.

Passado um ano da quebra do banco norte-americano de investimentos Lehman Brothers - fato considerado marco do aprofundamento e generalização da crise financeira mundial -, o Brasil demonstra sistematicamente que conseguiu passar por este grave período sem sofrer grandes abalos.

Em relação ao panorama global, a economia norte-americana está se estabilizando, após ter deixado para trás o pior momento da crise, segundo avaliação do próprio Fed, o banco central dos Estados Unidos. Atual esteio da economia global, a China tem divulgado dados positivos, tanto sobre a produtividade, quanto em relação ao consumo. E o Brasil deu um salto de oito posições no ranking da competitividade global apurado pelo Fórum Econômico Mundial, passando a ocupar a 56ª posição entre 133 países avaliados, mesmo durante um período de grave crise. Esse cenário mais equilibrado contribui decisivamente para a equalização da economia brasileira.

Um dado especialmente positivo após este ano de turbulências é que os juros básicos da economia brasileira estão hoje no menor patamar da história. A oferta de crédito firme e barato é um dos mais importantes fundamentos para garantir o crescimento sustentado de uma economia. Com uma taxa Selic mais próxima dos juros básicos praticados internacionalmente, além do reforço no crédito oferecido a empresas e pessoas físicas - notadamente pelas instituições financeiras oficiais –, o consumo e os investimentos brasileiros têm sido mantidos em um patamar adequado para o crescimento esperado.

Alguns ainda reclamam de que o Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, poderia seguir a trajetória de redução dos juros, já que decidiu manter a Selic em 8,75% ao ano neste mês de setembro, interrompendo uma sequência de cinco baixas consecutivas. No entanto, muitos se esquecem de considerar que o conservadorismo do Banco Central ao longo dos últimos anos talvez tenha sido um dos fatores que evitaram o aprofundamento da crise econômica no Brasil. Não é mentira que os juros brasileiros ainda estão muito altos, mas será que vale a pena arriscar baixando mais as taxas neste momento ainda sujeito a instabilidades?

A troca brusca entre um movimento de retração por uma tendência de crescimento não é a atitude mais aconselhável diante do cenário atual. Agir com cautela ainda é a melhor alternativa para garantir que a pavimentação do caminho da retomada do crescimento seja sólida e consistente.

Além disso, o Brasil tem agido como protagonista de destaque no cenário internacional. Basta prestar atenção ao que a imprensa mundial tem falado de nosso país para perceber que temos adquirido certo destaque do qual não dispúnhamos anteriormente. Isso tem se refletido na capitação de importantes e vultosos recursos externos, basta olhar a tendência de valorização do real frente ao dólar.

Por isso, não me constranjo em sugerir àqueles que buscam "surfar" no momento positivo pelo qual passamos: é hora de manter as apostas, mas, claro, sempre com cautela e prudência.

Na primeira quinzena de agosto, em artigo publicado pela imprensa, apostava em um crescimento de pelo menos 1% para o PIB brasileiro em 2009. Mesmo mantendo a cautela, agora eu mesmo estou revendo a estimativa anterior, para 1,5%. Ao fim e ao cabo, espero sinceramente que os meus palpites econômicos fiquem aquém dos números reais. Assim, não hesitarei em mandar minha bola de cristal para o conserto...

. Por: Eduardo Pocetti, sócio-diretor e CEO da BDO Trevisan.

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