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19/09/2009 - 08:11

O livro, o fiscal e a capivara.

É preocupante constatar como algumas questões são tratadas de maneira distorcida no Brasil, transformando-se mitos em “verdades” e meras suposições em conceitos indefectíveis no inconsciente coletivo. Tal vício cultural seria menos grave se o impacto desses equívocos não tivesse forte influência na opinião pública e até mesmo, como ocorre em muitos casos, na elaboração de leis e decisões judiciais.

Um desses fenômenos enviesados de informação manifesta-se paulatinamente no tocante aos produtos impressos, como livros, jornais, revistas e cadernos, cada vez mais acusados de contribuir para a redução das florestas, considerando que o papel é produzido a partir da madeira. Diante da gravidade dessa informação errada, é preciso urgente e ampla reação para o restabelecimento da verdade, antes que se transformem em vilões da sustentabilidade aqueles heróis da difusão cultural, do conhecimento e da informação.

Não se pode deixar proliferar informação irresponsável, em especial quando se trata de assunto de tanta relevância, envolvendo setores produtivos com milhares de empresas e milhões de trabalhadores, como é o caso da cadeia produtiva da comunicação impressa. Assim, é urgente esclarecer que os impressos e a produção de embalagens em papel-cartão não causam desmatamento.

No Brasil, cem por cento da produção de celulose, matéria-prima do papel utilizado nos processos de impressão, provêm de madeira colhida em florestas plantadas. Estas, além de tornar desnecessário o desmatamento, também contribuem para atenuar as mudanças climáticas, pois em todo o período de desenvolvimento até o corte, de sete anos, em média, sequestram grande quantidade de carbono da atmosfera, ajudando a reduzir os gases do efeito-estufa.

As florestas cultivadas com o propósito de se colher árvores para a fabricação de papel e celulose são absolutamente sustentáveis. Seu manejo permite manter grandes áreas plantadas com pinus, eucalipto e outras espécies. A madeira de origem certificada e integralmente proveniente de reflorestamento atende de modo adequado à demanda da produção nacional de celulose.

A mídia impressa, por outro lado, está entre os conteúdos da comunicação contemporânea nos quais mais se aborda o tema da preservação, da responsabilidade socioambiental e da ecologia. Tem sido fundamental para a formação de uma consciência de sustentabilidade! Assim, a produção de jornais, revistas, livros, cadernos e outros impressos não pode, em hipótese alguma, confundir-se com os problemas que realmente causam a devastação das matas no Brasil, em especial na Amazônia. Entretanto, enquanto a ocupação ilegal de terras, a produção em áreas de preservação e o contrabando de madeira continuam destruindo imensas áreas e abatendo florestas ao léu da lei e da fiscalização, parece mais fácil culpar os impressos.

Caso não se promova amplo esclarecimento da opinião pública, corre-se o risco de se desenvolver um conceito muito equivocado e injusto com relação à comunicação gráfica e seu processo produtivo. Como em nosso país tais tergiversações muitas vezes refletem-se na elaboração de leis nem sempre coerentes, todo cuidado é pouco! Observem como esses fenômenos da comunicação de massa acabam invertendo alguns valores até mesmo no âmbito da elaboração e aplicação da legislação penal.

Por conta dessas distorções, o pequeno texto de ficção que se segue seria absolutamente factível sob a realidade das leis brasileiras... Em uma fazenda, ao cair da tarde, o proprietário caçava capivaras, atualmente protegidas pela legislação ambiental. Ao abater um animal, foi surpreendido por um fiscal, que lhe comunicou tratar-se, além de implicar multa, de crime inafiançável. Ante a iminência da prisão, o caçador cometeu a atrocidade de atirar no homem. Enterrou a capivara, apresentou-se dois dias depois às autoridades, confessou o crime contra o “invasor” de suas terras, pagou fiança e, primário, até hoje está respondendo o processo em liberdade. Se tivesse sido preso em flagrante pela morte da capivara, continuaria atrás das grades... Um verdadeiro despautério!

Pois bem, precisamos esclarecer a opinião pública e deixar bem claro às autoridades, políticos e legisladores que os impressos não provocam a derrubada de uma árvore nativa sequer neste país. Caso contrário, não tardará o dia em que escrever ou ler um livro poderá ser tipificado como grave crime contra o meio ambiente. Seria um tiro letal na cultura!

. Por: Alfried Karl Plöger, presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) e vice-presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca).

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