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24/09/2009 - 10:37

*Fernanda Takai, Milton Nascimento e uma mega-exposição homenageiam o fundador de Brasília

Shows ao ar livre e exposição multimídia interativa, petiscos mineiros e músicas da terra de Juscelino prometem encantar os visitantes, evento marca oficialmente o início das comemorações dos 50 anos de Brasília.

Escolhido em 1999, em votação popular, o Brasileiro do Século, apontado pelo escritor mineiro João Guimarães Rosa como “o poeta da obra pública”, Juscelino Kubistchek é, segundo as palavras do jurista e político Afonso Arinos, o único estadista brasileiro que será lembrado daqui a mil anos. O homem idealista que, num arrojo de coragem, decidiu mudar a feição do País e construir a Capital Federal na região central do Brasil será homenageado, de 25 a 30 de setembro com um grande evento. Todo o evento tem classificação etária Livre.

Durante seis dias, a Praça Central do Museu Nacional do Conjunto Cultural da República vai se transformar num pedacinho de Minas Gerais, para celebrar o mineiro ilustre que fundou Brasília. Ali, estará montada uma mega-exposição multimídia, um grande palco para shows ao ar livre, praça da alimentação, comandada pelo mineiro Jorge Ferreira, e muito mais. É Viva Brasília – um Tributo a JK, que será aberto oficialmente pelo governador José Roberto Arruda e pelo vice-governador Paulo Octávio no dia 25 de setembro, às 19 horas. Às 20 horas, haverá concerto da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, sob regência do maestro Ira Levin, que executará, entre outras, Peixe Vivo, música preferida de JK. Às 21 horas, show da mineiríssima Fernanda Takai interpretando bossa nova.

O evento vai homenagear o homem que, no dia 12 de setembro, teria completado 107 anos de idade. No dia 26, sábado, às 21 horas, quem sobe ao palco é o grande Milton Nascimento. Antes, porém, o público brasiliense assistirá a apresentações musicais de dois dos maiores artistas da cidade. Às 19 horas, o show fica por conta da exuberante Ellen Oléria e, às 20h, é a vez de Roberto Corrêa, um dos mais importantes violeiros do Brasil. Classificação etária: livre

Viva Brasília – um Tributo a JK é um evento BRB Cartões e Seguros BRB, com patrocínio Furnas. A realização é da Ativa Promoções e conta com o apoio do GDF, BrasíliaTur, Secretaria de Cultura e Museu Nacional da República. É o primeiro grande evento popular realizado na cidade em homenagem ao mês de aniversário do ex-presidente. A idéia é integrar a festa ao calendário cultural de Brasília e, assim, marcar um novo encontro de JK com o povo da cidade. Para isso, foi concebida uma programação que une informação e arte, afinal a relação de estima por uma cidade é estabelecida, em grande parte, pela relação dos seus habitantes com a cultura. Sem cultura é impossível amar verdadeiramente uma cidade ou um país. JK sabia disso. Sempre à frente de seu tempo, o ex-presidente soube combinar, como ninguém, progresso e espírito artístico.

Exposição multimídia interativa - Uma grande estrutura foi especialmente criada para acolher o evento. Erguida na área externa do Museu e com um corredor de 100 metros, a instalação inclui seis salas expositivas. Todas elas são equipadas com suporte digital para guiar o visitante a um passeio emocionante pela vida e pela obra de JK. No dia 25, a exposição ficará aberta das 19h às 22 horas. Dos dias 26 a 30 de setembro, das 10 às 22 horas.

A mostra foi concebida numa parceria entre o arquiteto Nicola Goretti, o produtor Fábio Scrugli, e os diretores de teatro Adriano e Fernando Guimarães. A exposição promete estabelecer uma relação sensorial do público com o criador de Brasília. Logo à entrada, o espectador poderá ter uma idéia do impacto que o ex-presidente sentiu quando chegou ao cerrado pela primeira vez, para determinar onde seria construída a nova capital da República. Uma grande imagem da região, com a vegetação retorcida e seca, recupera e exibe, em dimensões amplas, a foto antológica de Juscelino Kubitschek olhando para o cerrado. Ali, ele decidiria cumprir o que determinavam as constituições de 1891, 1934 e 1946 e levar a capital para a região central do Brasil.

A segunda sala da exposição Viva Brasília – um Tributo a JK é dedicada às palavras. Num ambiente escuro são projetadas palavras e frases que lembram JK ou que foram proferidas por ele (o ex-presidente cunhou máximas exaustivamente repetidas como “o perdão é a marca da grandeza” e “meu sonho é viver e morrer num país em liberdade”).

Um terceiro módulo (Do Traço à Realidade) destina-se a falar da construção de Brasília, fixando, no chão, uma planta ampliada do Plano Piloto. Esta planta se reflete também no teto, onde está inscrito o traçado original criado por Lúcio Costa (a consagrada imagem do avião). Nas paredes desta terceira sala se revezarão, em projeções, os prédios mais famosos da Capital Federal.

Na quarta sala (Minha Brasília) estão os personagens. E eles podem ser muito conhecidos ou ilustres anônimos. Mas todos têm um ponto em comum: fizeram e fazem parte da saga da construção de Brasília. A imagem destes personagens aparece ampliada e fixada sobre um totem, em tamanho real. Ali, será possível, aos visitantes, tirar fotos abraçando uma representação do ex-presidente, por exemplo. Nas paredes, imagens da arquitetura inventiva de Brasília.

A quinta sala conjuga passado, presente e futuro, mostrando a contemporaneidade de JK. Os discursos e as frases proferidos pelo estadista, em sua própria voz ou gravados por atores, são misturados a músicas com batida Techno, ao mesmo tempo em que são projetadas imagens de Juscelino visitando o canteiro de obras durante a construção de Brasília. O espaço contará com a presença de Djs que farão a trilha ao vivo durante todo o período da exposição.

A sexta e última sala é o espaço dos desejos. Ali, dois grandes livros, em branco, convidam o visitante a inscrever, pessoalmente, seus desejos para Brasília, às vésperas de a cidade completar 50 anos de idade.

Shows gratuitos ao ar livre: O espaço concebido para Viva Brasília – um Tributo a JK inclui ainda um grande palco, que vai receber consagrados nomes da MPB. As apresentações podem ser apreciadas com o acompanhamento nobre de petiscos mineiros, especialmente preparados por Jorge Ferreira. No total, serão dois dias de shows realizados ao ar livre e com entrada franca. O primeiro, no dia 25 de setembro, apresenta a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, sob regência de Ira Levin, e a cantora mineira Fernanda Takai.

O maestro Ira Levin elegeu, para a abertura da apresentação da Orquestra, uma canção de domínio público que se tornou sinônimo de JK, Peixe Vivo, com arranjo de Malhe. Em seguida, peças do cancioneiro popular, arranjadas por Fernando Morais, músico da OSTNCS: Asa branca, de Luiz Gonzaga, e Feira de Mangaio, de Sivuca. A apresentação prossegue com a bela Sinfonia da Alvorada, de Tom Jobim, As Três Danças, de Camargo Guarnieri, as Bachianas nº 4 e Bachianas nº 2 e o Trenzinho Caipira, de Villa-Lobos. Ao final, o Batuque, de O.L. Fernandez.

Simpático, popular (“O homem é uma pilha de simpatia humana", disse o jornalista carioca San Tiago Dantas) Juscelino Kubitschek ficou conhecido, no meio artístico, como o “Presidente Bossa Nova”. Nada mais justo então do que o show de abertura de Viva Brasília – um Tributo a JK ser encerrado com o a mineira Fernanda Takai apresentando sua homenagem aos 50 anos da Bossa Nova. No show, a cantora (que ainda é vocalista da banda Pato Fu, além de cumprir carreira solo) interpreta canções de seu disco Onde brilham os olhos seus, como Insensatez, O barquinho e Com açúcar, com afeto.

Para o sábado, dia 26, às 21 horas, está reservada a participação de Milton Nascimento, sem dúvida o nome mais proeminente da música mineira nos dias atuais. Sucesso em mais de 20 países, duas vezes indicado ao Prêmio Grammy, Milton recebeu o Grammy Latino em 1997, na categoria World Music pelo álbum Nascimento. O cantor e compositor deve fazer um passeio por suas composições, relembrando alguns sucessos e apresentando canções mais recentes.

Para a abertura do show de Milton Nascimento, foram convidadas duas atrações brasilienses: Ellen Oléria e Roberto Corrêa. Ellen Oléria esbanja em sua voz e violão todo o swing da black music. Com shows que misturam funk, samba e rap, a cantora vem cada vez mais consolidando o seu trabalho. Não há quem não se contagie com a voz que brinca com o ar, atravessa o invisível e faz rachar qualquer tédio. Ellen Oléria deixou de ser uma grande promessa da música de Brasília, para se tornar um dos seus maiores expoentes. Além de cantar, Ellen também toca violão e compõe. Mistura poesia nas letras e melodias contagiantes.

Instrumentista, compositor e pesquisador, o violeiro Roberto Corrêa tem desenvolvido uma trajetória única na história da viola caipira. Através de seu trabalho, a viola caipira e a viola de cocho (instrumento típico do pantanal mato-grossense) chegaram às salas de concerto de vários países. O músico foi escolhido para abrir uma série mundial de música tradicional, criada pela UNESCO na Alemanha. Seu disco em parceria com Inezita Barroso – Caipira de Fato – recebeu o Prêmio Sharp de 1997 e ele é apontado pela crítica como o “o mais importante pesquisador de violas e violeiros”. Com 13 discos lançados, em suas apresentações Roberto Corrêa conversa com a platéia, contando causos relacionados à viola e às suas tradições no Brasil.

Um estadista sintonizado com a arte-A multidão que acompanhou o cortejo fúnebre em homenagem ao ex-presidente Juscelino Kubitschek a partir do Eixo monumental, foi a demonstração de que a memória do responsável pela construção de Brasília estava ainda intacta no universo simbólico dos candangos. A eles se juntaram pioneiros de todas as classes sociais - engenheiros, professores, profissionais liberais dos mais diversos campos de atividade. Jamais se tinha visto algo parecido em Brasília.

A memória de Juscelino permanecerá de forma duradoura no imaginário político brasileiro. JK nunca teve máculas em sua vocação democrática. Poucos estadistas igualmente exalavam simpatia e otimismo tão contagiantes. Portanto, não foi nenhuma surpresa ver seu nome encabeçar a lista do Brasileiro do Século, na categoria Líderes e Estadistas, numa enquete promovida pela revista Isto É.

Juscelino deixou o Palácio do Planalto em janeiro de 1961 com grande saldo de realizações. O esforço épico da transferência da capital para o interior do Brasil materializava os objetivos de um governo que tinha como slogan “cinqüenta anos em cinco”. O tão propalado Plano de Metas abrangia todos os principais setores do governo (energia, transportes, educação, alimentação e indústria de base). A construção de Brasília era chamada de “meta-síntese” e deu frutos de igual importância. As hidrelétricas de Furnas e de Três Marias, a implantação da indústria automobilística, a criação das siderúrgicas de Cosipa e de Usiminas, a construção de mais de 20 mil quilômetros de rodovias foram alguns deles. Essas obras, também gigantescas, mudaram para sempre a cara do Brasil. Com elas, JK estabeleceu para sempre sua imagem de empreendedor progressista.

Com JK o país fez grandes avanços. Este foi o legado que a prática de sua filosofia “nacional-desenvolvimentista” deixou para as futuras gerações. Ainda hoje, quando se viaja pela Belém-Brasília, por Goiás, Minas, e todo um círculo sócio-econômico que tem Brasília como centro irradiador de troca, a lembrança do ex-presidente se faz presente das mais insólitas formas. Postos de gasolina, bares, proprietários de pequenos negócios que ostentam o nome de Juscelino, até mesmo mulheres chamadas Juscelinas, mantêm acesa a lenda de um político que transcendeu sua ação no tempo. A extraordinária empatia de JK com as pessoas mais humildes era ao mesmo tempo natural e meticulosamente construída. Mas, mesmo neste último caso, não parecia implicar, para ele, em qualquer forma de artificialidade ou sofrimento. Gostava de conversar com as pessoas do povo, chamava-os pelo nome quando visitava os canteiros de obra durante a construção de Brasília.

Filho de um caixeiro viajante com uma professora primária, Juscelino conheceu as angústias da gente simples desde a infância privada do luxo em Diamantina. Pode ser que o clima cordial de Minas Gerais tenha moldado o temperamento do jovem político promissor. O fato é que nem tudo eram flores quando, depois de fulgurante carreira, JK assumiu a Presidência da República no vácuo do trauma do suicídio de Getúlio Vargas. Os militares mostravam-se preocupados com a fragilidade da democracia brasileira que abria brechas para o crescimento do sindicalismo e do comunismo. Juscelino tratou de iniciar seu governo enfatizando a necessidade de empreender “desenvolvimento e ordem”, objetivos que o historiador Boris Fausto chamou de “compatíveis com o das Forças Armadas”.

Juscelino assumiu o poder em situação tensa, mas sua habilidade conciliadora trouxe tranquilidade à cena política nacional. Ele era o presidente contemporizador. O anunciador de uma nova era - moderna, otimista, repleta de bons presságios, apesar dos desafios monumentais que ele próprio estabeleceria para si. Brasília seria o símbolo da modernidade no país. Paz política e avanço nos campos social e econômico (a despeito da estruturalmente endêmica desigualdade social) foram incentivos para as artes brasileiras. O contexto mundial também ajudava. O fim da Segunda Grande Guerra espalhara um irrefreável clima de reconstrução. Em todos os sentidos, desde o material, até o humano e espiritual. No cone sul, muitos países latino-americanos libertavam-se de ditaduras.

O que aconteceu no campo da arte foi interessante. A bossa nova rompia com as antigas fórmulas do bolero e com a estética por vezes dramática e de letras rebuscadas. A bossa inaugurou o coloquial na canção; a fala simples, jovem e direta. Surgiu o cinema social inspirado no neorealismo italiano que depois se afirmaria por aqui como cinema novo. O grupo de teatro Arena também enveredava pela temática social. As artes plásticas descobriam caminhos novos e germinais. A impressão geral era de que o Brasil dava adeus ao isolamento, inserindo-se e dialogando com as vanguardas internacionais.

Os anos JK foram um prenúncio do mundo globalizado. As artes anteciparam esse mundo futuro, incorporando os avanços e influências de um planeta que dava os primeiros passos no irreversível processo de internacionalização. Paradoxalmente, nunca como naquela época se questionou tão profundamente a idéia de nacionalidade. A atualidade de Juscelino é descobrir o Brasil através dessa ótica cosmopolita, universalizante. Com JK descobrimos um fato sutil e, aparentemente, paradoxal: as identidades locais e nacionais se reinventam simultaneamente à construção da civilidade.

. [ Viva Brasília – um Tributo a JK, de 25 a 30 de setembro de 2009, na Praça do Museu Nacional da República. Realização: Ativa Promoções].

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