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25/09/2009 - 11:23

Hatoyama mudará o Japão?

“Hoje é o início de um novo ponto de guinada na história, um dia para começar mudanças drásticas na política e no governo”. Essa foi a declaração de Yukio Hatoyama, presidente do Partido Democrático do Japão (PDJ), no dia da sua nomeação ao cargo de primeiro-ministro do país. Essa declaração e a realização das promessas de campanha envolvendo, por exemplo, questões econômicas e de política externa, enfrentam vários desafios.

No âmbito econômico foi prometido auxílio às famílias no valor de 26 mil ienes (pouco mais de 500 reais) por criança por mês, até o término do ensino médio, a abolição da cobrança de pedágios e de taxas sobre a gasolina. No entanto, o governo japonês já apresenta um dos maiores endividamentos públicos do mundo, próximo de 200% do seu PIB, que em 2008 foi 4,92 trilhões de dólares. O novo governo já declarou que irá rever vários gastos de estímulo à economia, previstos pelo governo anterior, mesmo assim conseguir os recursos para essas políticas será um dos desafios.

Outro problema que se apresenta ao novo governo é a falta de experiência no papel de executivo e de relacionamento com a burocracia. O próprio Yukio Hatoyama, apesar de ser um político de “pedigree” - seu avô, Ichiro Hatoyama, foi primeiro ministro (1954-1956); seu pai, Iichiro Hatoyama, foi vice ministro das finanças; seu irmão, Kunio Hatoyama, foi ministro da educação, todos os três pelo Partido Liberal Democrático (PLD) - não exerceu um cargo executivo. O fato de ser a primeira vez que o PDJ assume o governo também poderá gerar dificuldades, não só pela inexperiência, mas também porque poderá haver certa resistência de aceitação da sua liderança pela burocracia, que consolidou relações com o PLD, que ficou no governo por mais de 50 anos, quase ininterruptamente. O fato de Hatoyama ter prometido que conduziria mudanças na estrutura política para fortalecer o papel dos políticos na gestão do Estado poderá ser outro fator de resistência. A superação das resistências e as alterações, aparentemente desejada pelos eleitores, só serão possíveis no médio prazo.

No curto prazo resultados econômicos podem ser um fator que contribua para o PDJ permanecer no governo mais tempo que a experiência anterior da oposição, em 1993, que foi alguns meses. Isso porque entre as principais preocupações dos eleitores japoneses estão as relacionadas aos seus bolsos, como, por exemplo, o desemprego e o problema da aposentadoria. Em agosto, o país registrou um índice desemprego de 5,7%, valor maior que durante os anos da crise que afetou o país nos anos 1990, que contribui para uma má avaliação do governo PLD. No caso da aposentadoria o problema está relacionado à perda de 50 milhões de registros de pensões pelo governo, fato que veio a tona no governo de Shinzo Abe (PLD) e foi decisivo para sua queda em 2007. Caso o cenário de recuperação econômica global se confirme, o que contribuiria também para redução do desemprego no Japão, o governo de Hatoyama poderá conseguir alguns dividendos, e ajudará a população japonesa a ter paciência na espera de mudanças na política.

A realização de promessas no âmbito da política externa também apresenta dificuldade. É sabido que os EUA são, desde o final dos anos 1940, um importante aliado e parceiro econômico e um pilar fundamental a segurança do Japão. Portanto, não é razoável pensar que a busca de maior independência dos EUA e a suspensão do apoio logístico às operações das forças americanas serão facilmente realizadas. Na Ásia, a promessa de aproximação do Japão em relação aos países asiáticos necessita que os seus parceiros aceitem, mas, para isso, algumas exigências deverão apresentadas. Num cenário em que o Japão busca se afirmar, não está claro que condições sejam aceitas pelo governo e que tenham apoio da população. A transformação na política externa também demandará tempo.

Portanto, um importante aspecto para Hatoyama será o tempo, para implementar as mudanças e para obter resultados. Com isso, seu desafio pessoal será manter acesas as esperanças da população no seu governo e uma boa popularidade até as eleições para Câmara Alta que acontecerão em 2010. Caso contrário, caso população se mostre insatisfeita, o PLD poderá conquistar a maioria nessa casa e iniciar uma tendência de enfraquecimento do governo PDJ e para sua volta ao governo.

. Por: Alexandre Uehara, coordenador do curso de Relações Internacionais nas Faculdades Integradas Rio Branco, coordenador da área Japão do Grupo de Conjuntura Internacional da USP, vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos Japoneses e pesquisador sênior do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais – USP.

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