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29/09/2009 - 11:29

Transpetro nomeia primeira mulher comandante de navio mercante do Brasil


A participação da mulher em atividades tipicamente masculinas ganha um fato inédito na história do país. Hoje, a paraense Hildelene Lobato Bahia assume o comando do navio Carangola, da frota da Transpetro – empresa de logística do Sistema Petrobras, que opera a maior frota de petroleiros do Hemisfério Sul. Ela é a primeira mulher a se tornar comandante da Marinha Mercante brasileira, posto mais alto da hierarquia marítima e que antes só era alcançado por homens, e a ter sob sua inteira responsabilidade uma embarcação de grande porte para cabotagem. “É uma superação. Especialmente por ter conquistado este espaço para o mundo feminino”, celebra Hildelene.

A trajetória profissional de Hildelene começou em 1997, quando, ao formar-se em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Pará (UFPA), prestou concurso para a Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante (EFOMM). Fez a prova apenas para acompanhar o irmão, que havia feito a inscrição. Para sua surpresa, conseguiu ser aprovada em 24º lugar e passou a integrar o primeiro quadro feminino do Centro de Instrução Almirante Braz de Aguiar (CIABA), em Belém. Com ela, mais 13 alunas de máquinas e de náutica tinham o desafio de quebrar um paradigma e a resistência dos colegas, já que estavam entrando num universo que ainda era exclusivamente masculino no Brasil.

Em 2001, já formada, após terminar a praticagem – uma espécie de estágio obrigatório feito a bordo – foi contratada pela Transpetro, tornando-se uma das primeiras mulheres a trabalhar na frota. Na primeira vez que embarcou, era a única figura feminina a bordo do Lorena. Além da estranheza dos tripulantes, Hildelene teve de driblar os receios dos pais, que acreditavam ser uma mudança muito forte na vida da filha.

No navio Lorena, Hildelene passou sete importantes anos que marcaram seu pioneirismo na carreira marítima. Lá, tornou-se segundo e primeiro piloto, a primeira mulher no Brasil a chegar a imediato – segundo cargo na hierarquia de um navio – e a primeira capitã de cabotagem. A embarcação, inclusive, ficou conhecida como “o navio da imediata”. Em 2003, prestou concurso para a Transpetro e passou definitivamente para o quadro da frota.

Desde sua primeira viagem, muitas foram as curiosidades que marcaram sua vida nos mares. Ela conta que, quando esteve no Bahrein, no Golfo Pérsico, já como imediato, teve uma experiência para lá de inusitada sob o ponto de vista cultural. Ao levar o navio para o estaleiro para fazer reparos, percebeu que os muçulmanos ficaram surpresos ao verem uma mulher no comando do processo. “Mas eles ficaram tranqüilos quando constataram que eu tinha qualificação para coordenar aquela ação”, conta, orgulhosa.

A passagem pelo Oriente Médio, pela convivência com culturas diferentes, chama atenção na trajetória de Hildelene, que traz números compatíveis com a preparação da missão que vai assumir. A futura comandante navegou 486 mil milhas, duas vezes e meia a distância da terra à Lua.

Esteve mil e setecentos dias trabalhando no mar, enfrentando desafios importantes. É o caso das oito vezes que atravessou o Estreito de Magalhães, como encarregada da navegação do navio Lorena BR. No mesmo posto, destacou-se última viagem do VLCC Barão de Mauá (hoje a plataforma P 50) do Brasil para Cingapura.

Como imediato, participou ainda na docagem do navio Rodeio. Exemplos que demonstram a competência como o motor principal da ascensão de Hildelene, que ganha agora um marco decisivo, a nomeação como comandante.

A vida dentro de um navio também mexeu com o coração de Hildelene. Há cinco anos ela é casada com o também marítimo Paulo Roberto. Os dois se conheceram a bordo em 2002. Dois anos depois, começaram a namorar. E a rotina de um marítimo não é fácil. Hildelene passa 56 dias em casa, depois de uma jornada de 120 embarcada, com uma tripulação que varia de 25 a 30 pessoas, a maioria homens. Mas isso não atrapalha o relacionamento com Paulo Roberto. Pelo contrário. Os dois aproveitam ao máximo os momentos de folga.

A trajetória de Hildelene é um exemplo seguido por muitas mulheres na Transpetro. Até o ano 2000, a frota de petroleiros da companhia, atualmente com 53 navios, era um reduto masculino. O panorama se modificou sobretudo a partir de 2003 e hoje a contribuição das marítimas é um importante indicador da evolução da equidade de gênero na força de trabalho da empresa. A bordo, mais de 100 mulheres desempenham diferentes funções. Além das que atuam na função de imediato, há oficiais de máquinas e de náutica, auxiliares de saúde, bombeadoras, eletricistas e auxiliares de convés.

Símbolo de ousadia, coragem, competência e liderança, Hildelene assume o navio Carangola e realiza o sonho mais elevado de sua paixão pelas ciências náuticas. O navio, com capacidade de 18 mil toneladas de porte bruto, transporta derivados escuros de petróleo entre portos da costa brasileira, uruguaia e argentina. Ao partir para sua missão como comandante, ela reafirma o papel da Transpetro como empresa inovadora que abre um novo horizonte para as mulheres do Brasil

Hildelene é a mais nova comandante de uma frota que está em processo de renovação e expansão. O Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef) prevê a construção de 49 navios para a empresa. Muito além de suprir as necessidades da companhia, o programa, graças à escala gerada pelo volume de encomendas, fez renascer a indústria naval brasileira, após décadas de crise. Novos estaleiros são construídos, enquanto outros se modernizam.

O Promef tem como uma de suas principais premissas tornar, novamente, a nossa indústria naval mundialmente competitiva, como já ocorreu na década de 70, quando chegamos a ser o segundo maior fabricante de navios de grande porte. Hoje o Brasil ressurge nos radares do mercado mundial da indústria naval e já possui a quinta maior carteira de encomenda de petroleiros.

Com a retomada do desenvolvimento e as descobertas do pré-sal, a demanda por novos navios deve aumentar e com ela as oportunidades de trabalho para marítimos como Hildelene e suas companheiras da Transpetro, que abriram um novo mercado para as mulheres brasileiras.

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