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30/09/2009 - 10:31

Vida de maquinista

Uma homenagem ao Dia do Ferroviário (30 de setembro ( quarta-feira).

A jornada de trabalho começa cedo. O que os espera é um vai e vem sem fim... Sempre prontos para conduzir milhares de vidas, os operadores de trem, mais conhecidos como maquinistas, são colaboradores importantes do conjunto de atividades que fazem da CBTU a maior operadora de transporte ferroviário de passageiros do país.

São eles, que, faça chuva ou faça sol, estão sempre atentos ao entra e sai de passageiros nas estações e ao tráfego de veículos e pessoas na via dos sistemas ferroviários abertos. Os maquinistas, profissionais centenários, têm uma rotina exaustiva, mas prazerosa. Diariamente eles convivem com diversas pessoas e as conduzem para seus destinos ou parte deles. Como diz o poeta, "a vida se repete na estação. Tem gente que chega pra ficar, tem gente que vai pra nunca mais (...) e assim chegar e partir são dois lados da mesma viagem, o trem que chega é o mesmo trem da partida".

As histórias de maquinistas se confundem com a da ferrovia. Há famílias onde o maquinista se reveza de geração em geração. Há sistemas onde o maquinista também é uma mulher. Existem maquinistas apaixonados pela profissão, há outros que reclamam da exaustão, mas no final das contas todos afirmam que amam a profissão. Uns querem os filhos conduzindo trens e metrôs, outros querem distância do dia a dia dos trilhos para a sua prole.

Responsáveis pelo transporte diário de milhões de usuários em todo o país, os maquinistas têm a tarefa de conduzir o trem com segurança e dentro do horário previsto, da partida até o destino final. É atribuição do maquinista toda atividade relacionada à operação de trens e locomotivas. Entre elas, controle de velocidade, respeito incondicional à sinalização de campo e de bordo, abertura e fechamento de portas, espera pelo embarque e desembarque, constatação de falhas ou avarias do equipamento, comunicação com o Centro de Controle Operacional - CCO, entre outros. Também cabe ao profissional conduzir locomotivas para atender a serviços de manutenção ou reboque de trens avariados, além de comunicar anormalidades verificadas durante a viagem.

Atualmente, para se tornar um maquinista na CBTU é preciso muito preparo e esforço. O primeiro obstáculo é a aprovação em concurso público ou seleção interna, no caso dos empregados. Os principais requisitos para concorrer ao cargo são: idade mínima de 18 anos, Ensino Médio completo e ainda possuir noções básicas de mecânica e eletricidade. Depois de aprovado na Prova de Conhecimentos, o candidato realiza uma avaliação psicológica, participa de dinâmicas de grupo, entrevista e exame médico. Por fim, os selecionados realizam o treinamento de formação de maquinistas, com a duração média de sete meses.

Amor e Orgulho da Profissão - "É uma vida sofrida. É prazerosa. Temos a oportunidade de transportar e se comunicar com as pessoas". Assim, o maquinista Antônio Cezar do Amaral, há 12 anos na profissão nos trilhos de João Pessoa. Amaral, como é conhecido, tem uma história interessante. Ele era policial militar e trocou a farda pelos trilhos. "Nunca sonhei em ser maquinista, mas agora é difícil deixar a profissão", revela.

Ele afirma que a troca valeu à pena e pretende se aposentar na Companhia. Este ano, Amaral sentiu-se orgulhoso por conduzir pela primeira vez o Trem do Forró, na cidade de Campina Grande. "Foi uma emoção", diz. A dedicação e empenho de Amaral, assim como os demais colegas, já espelha o desejo do seu filho em ser maquinista.

Há 20 anos, lidando com locomotivas, Severino Urbano da Silva Filho, não esconde o orgulho em ser maquinista por descobrir paisagens incríveis, conhecer a realidade das comunidades por onde o trem passa, "além do prazer em transportar milhares de pessoas".

Tanto ele quanto Amaral afirma que o que preocupa a classe é, na visão deles, é a falta de reconhecimento da sociedade. "Os problemas estruturais agravam o dia a dia dos maquinistas. A gente entende as dificuldades enfrentadas pela CBTU", asseguram. Eles afirmam que necessitam de melhores condições de trabalho, cursos de reciclagem e melhores salários. A CBTU vem, de acordo com as aspirações da categoria, promovendo cursos, treinamentos e vem buscando melhorias na questão salarial.

Mas problemas a parte, os dois entrevistados garantem que todos trabalham com responsabilidade, dedicação e amor a profissão. "Eu estou feliz aqui e a maioria gosta do que faz", completa Severino Urbano.

Pai e Filho dedicam sua vida ao sistema ferroviário (Natal) - Uma história de amor à ferrovia começa com um chamado ainda na Paraíba. José Francisco da Silva conta que foi convidado para trabalhar na via permanente em 1942, e como não tinha outra jeito de se sustentar financeiramente aceitou. A primeira oportunidade foi aos 19 anos, em Guarabira, depois ele trabalhou em Sapé, Engenho do Rei, João Pessoa, Souza, Campina Grande e Natal. A chegada à capital potiguar foi em 1959, onde trabalhou na RFFSA até 1977.

Para José Francisco, que hoje está com 85 anos de idade, os 36 anos dedicados à ferrovia foram como 36 dias. "Eu fui tão feliz com a escolha da minha profissão que não senti o tempo passar. Foi muito rápido", afirma seu Francisco.

De família de ferroviários, onde pôde observar o pai, dois tios e um primo trabalharem, surge mais uma paixão pela profissão. O Everaldo Francisco da Silva se encantou com a ferrovia e decidiu prestar concurso para auxiliar de maquinista, em 1987.

Aos 22 anos, em Natal, ele é aprovado e começa a trabalhar na CBTU-Natal. Após cinco anos, Everaldo tornou-se maquinista.

A maior satisfação para Everaldo é a convivência com os amigos e o relacionamento com as pessoas no ambiente de trabalho.

Aos 51 anos e pai de quatro filhos, Everaldo conta que o amor pelo sistema ferroviário está passando de geração em geração, e que dois dos seus filhos pretendem ingressar na CBTU. "A ferrovia entrou para história da minha família e não quero que ela saia", afirma.

Mulher Maquinista - A CBTU-Metrorec foi empresa brasileira pioneira na seleção de mulheres para condução de trens, abrindo espaço para a parcela feminina de seus empregados e depositando confiança e credibilidade no desempenho de suas funcionárias. Foi a partir de um concurso interno que Maria Elizabeth saiu das estações e passou a conduzir trens, atuando como uma das primeiras maquinistas do Brasil. Há 22 anos nesta função, ela afirma: "Uma das características femininas que mais pesa em minha rotina profissional é a atenção redobrada", critério determinante na prevenção de acidentes. Apesar de não perceber grandes diferenças no trabalho exercido pelas mulheres em comparação ao dos homens, Elizabeth diz que "Lidar com o público exige cautela e dedicação", fatores que ela absorve em sua vida pessoal e que a auxiliam em situações de risco.

Dona de casa e mãe, a maquinista admite que conciliar as tarefas é difícil, mas sente prazer no que faz e encara com naturalidade a surpresa das pessoas em relação a sua função.

A presença feminina no comando de veículos ferroviários no Recife, duplicou no decorrer de 9 anos. Atualmente, a CBTU-Metrorec conta com 14 mulheres operando em seu sistema, além de empregar duas chefes de posto.

Vida de Maquinista na trilha da Cultura - Diversidade cultural. É, nisso que se traduz uma pequena amostragem do quadro de assistentes condutores da CBTU-METRÔ BH. Entre os 137 empregados que compõem o grupo, verdadeiros escudeiros das artes e das letras, o maquinista Júlio César Barreto Silva, estudante de Letras e aficionado por leitura, é um desses muitos exemplos.

Acreditando que grandes escritores nascem de grandes leitores, em 2007, ele se inscreveu e levou um dos prêmios da 5ª edição do Prêmio Literário Nossa Gente, Nossas Letras. A participação do assistente condutor resultou na publicação da crônica: "No Compasso do Tempo", em livro homônimo publicado pela Editora Record, em 2008. O prêmio homenageou o escritor mineiro Carlos Drummond de Andrade, nos 20 anos de sua morte e aos 50 anos da edição de seu primeiro livro: Fala, amendoeira. Entre os inscritos, mais de 60 mil alunos de cerca de cem instituições de ensino das principais universidades e faculdades dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo.

Assistente condutor há mais de 20 anos, Júlio Barreto destaca que a publicação lhe deu ânimo novo para um sonho antigo: A literatura, como projeto de vida. "Amo minha profissão, tanto é que meu 1º brinquedo foi um trem de ferro, mas também amo a leitura e, é engraçado como as duas atividades correm paralelas: No metrô, transportam-se vidas, pessoas. Na literatura, pensamentos, ideias".

Audiovisual - Também foi uma paixão, desta vez o teatro, que levou o Assistente Condutor Luiz Sanches a produzir o vídeo "Vida de Maquinista". O audiovisual de sete minutos, inteiramente filmado e editado por Sanches com a participação de mais de 50 personagens, narra um dia na rotina dos assistentes condutores da CBTU-METRÔ BH.

Cronista, fotógrafo e roteirista com mais de dez espetáculos teatrais de humor já escritos, Sanches não vê à hora de ter um de seus textos nos palcos e, porquê não dizer, nas telas? "Escrevo tudo que me vem ao pensamento, dou risadas e me divirto escrevendo, nem que seja só para mim mesmo e boa parte desse desejo virou realidade com a produção do audiovisual Vida de Maquinista".

Condutor há pouco mais de dois anos, Sanches diz ainda que operar trens é um privilégio de poucos. "A profissão tem várias facetas interessantes, a começar pelas paisagens. A via exclusiva te dá à sensação de um caminho quase inexplorado. Apesar de passar por ali todos os dias, sempre vejo coisas diferentes".

Do trem para as telas - Responsável pela vida de milhares de pessoas diariamente, há sete anos Clemente Paulo dos Reis conduz trens e há um escolheu ser aprendiz das artes plásticas. Desde março de 2008 vem esboçando nas telas um sonho de criança, a pintura. Em suas obras, paisagens abstratas, flores e muitas cores vivas.

Já chegou a vender seus quadros aos colegas Condutores, quando estava em dificuldades para comprar o material de trabalho, mas sempre teve na arte uma busca por novas experiências e pelo aprendizado constante. "Minha intenção não é ganhar dinheiro com a pintura, mas tê-la por perto, acompanhar sua evolução e descobrir experiências novas em cada pincelada", revela.

Clemente Paulo destaca ainda que seu próximo desejo é representar sua vida nas telas. "Gostaria de pintar quadros que representem a minha história, mas isso são planos para o futuro".

Trajetórias multiculturais - Desenhista e escultor são as atividades do artista-maquinista Roque Gonçalves Ferreira Junior. Autodidata, Roque Júnior já brincava com lápis e pincéis, aos cinco anos de idade, desenhando qualquer objeto ou animal. As calçadas de sua cidade natal também foram usadas como telas ao receber rabiscos de carvão do artista que tomavam as mais variadas formas.

A paixão pela arte leva Roque Júnior a renovar seu acervo, constantemente, doando seus desenhos a amigos e interessados. "Uma de minhas obras favoritas é o retrato de uma onça pintada, com o qual presenteei um amigo", comenta.

Como escultor, explorava seus dons produzindo trabalhos que representavam à fauna do Parque Nacional da Serra da Canastra quando era morador da cidade de São Roque de Minas. Miniaturas de lobo guará e tatu canastra do artista despertavam as atenções dos turistas que visitavam o parque.

A vida de condutor começou em fevereiro de 2007, motivada pelo interesse por sistemas mecânicos, mais uma de suas paixões que ajuda a compor essa multiplicidade de facetas e trajetórias que caracterizam, não apenas ele, mas, dezenas de talentos anônimos do metrô de Belo Horizonte. | Cidade nos Trilhos.

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