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10/10/2009 - 09:17

Descrença que ameaça o futuro

São muito preocupantes as conclusões de análise realizada, com base em estatísticas de países latino-americanos, pelo professor Gonzalo A. Saraví, do Centro de Investigações e Estudos Superiores em Antropologia do México. Em trabalho publicado na edição nº 98 da “Revista Cepal”, o acadêmico observa que os jovens de segmentos vulneráveis valorizam cada vez menos a escola e o trabalho como mecanismos de mobilidade e ascensão social, enquanto o consumo de bens materiais e itens da moda se potencializam entre eles como elementos de inclusão e símbolos de identidade.

Mais lamentável ainda é a evidência de que a juventude está cada vez mais convencida de que a educação formal é incapaz de melhorar as condições de sua vida. Descrédito semelhante é conferido ao mercado de trabalho, visto com crescente ceticismo como meio capaz de tirar pessoas da pobreza. É óbvio o desvirtuamento comportamental de jovens que perderam o vínculo e a confiança em dois dos principais alicerces da sociedade e referências de interação dos indivíduos sob as normas do civismo, ou seja, os sistemas educacional e laboral.

O professor mexicano, em seu trabalho de campo, ouviu numerosos jovens de seu país. Também há depoimentos de peruanos e dados relativos a um estudo sobre favelas do Rio de Janeiro. Nestas, nas quais nossa preocupação e interesse são obviamente maiores, os entrevistados manifestam pouca crença na educação, em especial porque observam exemplos negativos de irmãos e amigos maiores, cuja escolaridade não significou mudanças em suas vidas. A partir de tamanha inversão de valores, abrem-se as portas da marginalidade. Ou seja, a desesperança quanto à escola e ao trabalho suscita a delinquência e condutas ilícitas.

Há que se considerar um dado muito relevante do estudo: o índice de evasão escolar continua elevado na média dos países da América Latina. O ensino público universal, como ocorreu no Brasil, massificou-se, é verdade, com oferta de vagas suficiente para atender à demanda de matrículas. Entretanto, a qualidade continua baixa, somando-se a outros fatores agravantes, como saúde precária e ausência de políticas sociais paralelas. Por isso, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), mais da metade das pessoas na faixa etária entre 20 e 24 anos não completa 12 anos de estudo, período mínimo indicado pelos especialistas como necessário para os indivíduos romperem a linha da pobreza .

Quando a juventude perde a crença na educação e no trabalho há algo muito errado! Trata-se de um alerta gravíssimo quanto à ineficácia das políticas públicas de inclusão social e de uma tácita denúncia quanto à fragilidade, inadequação e desvirtuamento dessa verdadeira instituição da humanidade chamada escola. É imensa a responsabilidade do Estado na busca de soluções urgentes.

Do mesmo modo, a sociedade, que tem avançado muito no voluntariado e na realização de programas privados de inclusão, educação, cultura, saúde, esportes e lazer, também deve mobilizar-se cada vez mais para o enfrentamento do grave problema. Os segmentos da cadeia produtiva da comunicação, como a indústria gráfica, editoras de livros, jornais e revistas, emissoras de TV e rádio e sites da Web, têm particular responsabilidade no processo, em especial na veiculação de conteúdos capazes de disseminar valores hoje dissipados no inconsciente coletivo da juventude.

Resgatar a credibilidade das instituições perante os jovens, em especial no tocante à escola e ao trabalho, é um compromisso decisivo para o futuro do Brasil e da América Latina. Não haverá desenvolvimento efetivo se continuarmos criando gerações de excluídos das normas do civismo, do consumo exercitado como fruto do trabalho, dos conceitos da ética e, sobretudo, da crença no Estado de Direito.

. Por: Alfried Karl Plöger, presidente da Abigraf Nacional (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) e vice da Abrasca (Associação Brasileira de Companhias Abertas).

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