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20/10/2009 - 13:23

Os estoques de grãos e os preços em 2010: preocupações

Os dados divulgados pelo USDA – Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – em 11 de setembro último nos permitem analisar o quadro de estoques mundiais de grãos no ano-safra 2009/2010 comparativamente aos níveis anteriores desta década. Isto está mostrado na Tabela 1.

Excetuando-se os casos do algodão e soja, os demais grãos têm níveis de estoques finais na safra 2009/2010 menores do que os da primeira metade da década.

Isso, em parte pelo menos, pode ser atribuído à demanda adicional para a produção de biocombustíveis e ao bom desempenho da economia mundial. O caso do milho é típico. No ano-safra 2006/2007, quando se iniciou essa demanda adicional, seu nível de estoque foi, de longe, o mais baixo da década, com apenas 12,4% do consumo mundial. Nos últimos três anos houve uma boa recuperação, mas ainda ficando abaixo dos níveis da primeira metade da década. Em 2009/2010 estima-se uma utilização de 111 milhões de toneladas de milho para etanol nos Estados Unidos (13,9% do consumo mundial). Evidentemente, esse quadro deveria influenciar, para cima, os preços internacionais desse cereal. Isso será visto mais adiante.

O arroz foi outro produto para o qual houve uma drástica redução dos níveis de estoques. O mesmo ocorreu com o trigo, mas houve uma boa recuperação nos dois últimos anos.

A soja teve o terceiro menor nível de estoque na safra 2008/2009, ficando bem abaixo dos níveis das safras 2004/2005, 2005/2006, 2006/2007 e 2007/2008. Isso também contribuiria para maiores preços internacionais.

Em 2009/2010 há previsão de um significativo aumento do nível de estoque dessa oleaginosa. Em resumo, com exceção do algodão, o mundo trabalhou, nos últimos anos, com níveis de estoques menores que nos anos anteriores desta década. Os casos mais sérios foram os do arroz, milho e trigo. Preços maiores não seriam surpresa.

Esses preços maiores estão retratados na Tabela 2 a partir do quarto trimestre de 2006. Nos anos seguintes, até o primeiro semestre de 2008 os níveis de preços de algodão, soja, trigo e milho ficaram consideravelmente maiores que as médias do período 2003/2006.

Com a crise econômica internacional em setembro de 2008 os preços começaram a cair. Aparentemente, o fundo do poço foi o quarto trimestre de 2008. Em setembro último os preços de algodão e soja foram maiores que os do quarto trimestre de 2008, mas os de trigo e milho foram menores. Todavia, o preço da soja teve uma substancial queda relativamente a agosto.

O ponto mais importante a ser analisado a seguir é a perspectiva para os preços de grãos no primeiro semestre de 2010 relativamente ao mesmo período em anos anteriores. Para isso, consideraremos os preços em dólares da Tabela 2 e o fator cambial. Como mostrado em artigos anteriores, este fator é o resultado do quociente entre a taxa de câmbio de um mês (período) e a taxa de câmbio do mesmo mês (período) do ano anterior. Valores acima de 1 indicam que ocorreu, no período, depreciação de nossa moeda, enquanto valores abaixo de 1 indicam que ocorreu uma apreciação.

O primeiro evento é favorável aos preços agrícolas, enquanto o segundo é desfavorável. Variações em sentido contrário dos preços internacionais podem compensar as variações do fator cambial.

O exame dos dados da Tabela 2 mostra que no primeiro semestre de 2009 o ajuste pelo fator cambial (valores entre parênteses) foi, em boa parte, compensatório ao declínio dos preços internacionais relativamente ao primeiro semestre de 2008. Isso permitiu que ocorresse apenas uma pequena queda dos preços aos produtores e, ao mesmo tempo, apenas uma pequena queda no valor da produção total (-4,1% para 20 produtos vegetais). Entretanto, para o primeiro semestre de 2010, excetuando o algodão, teremos o contrário: preços internacionais menores (valores sem parênteses) e apreciação do real (fator cambial abaixo de 1, 0,821). Estamos assumindo uma taxa de câmbio média de R$ 1,80 / US$ para o primeiro semestre de 2010.

Portanto, a apreciação estimada da nossa moeda seria de 17,9% entre os dois períodos de 2009 e 2010.

Comparando-se os preços (previstos) para o primeiro semestre de 2010 ajustados pelo fator cambial de 0,821 (valores entre parênteses) com os preços do primeiro semestre de 2009 (valores sem parênteses), temos os seguintes resultados: √ Algodão: 8,6% | √ Soja: - 29,4% | √ Trigo: - 30,2% | √ Milho: - 24,0%.

Portanto, com exceção do algodão, a conclusão para os outros grãos para a comercialização no primeiro semestre de 2010 não é nada favorável. No total, soja, trigo e milho representam 40,0% do valor da produção total (20 produtos vegetais) em 2009. Evidentemente, a apreciação prevista do real (de 17,9%) afetará negativamente os preços de todos os produtos comercializáveis externamente e, em consequência, o valor da produção total. Os agricultores precisarão estar preparados para um bem desfavorável primeiro semestre em 2010. Em 4 de outubro último nossa taxa de câmbio já estava abaixo de R$ 1,80 / US$ (exatos R$ 1,766 / US$).

Tomando-se as variações de preços acima mostradas como uma primeira aproximação para as variações de preços aos produtores no primeiro semestre de 2010 teríamos os seguintes valores para os preços recebidos pelos produtores (base São Paulo) − a comparação é feita com os primeiros semestres de 2007, 2008 e 2009. Os valores nominais são:

Os preços de algodão em São Paulo são pouco confiáveis, mas sua situação em 2010 deve ser um pouco melhor em função de um maior preço internacional. Soja e milho, entretanto, deverão ter preços bem menores aos produtores no momento da comercialização no primeiro semestre de 2010.

Como indicado na última coluna o preço do milho já mostrou um forte ajuste na direção prevista. O da soja ainda não. É possível que seu preço corrente no Brasil esteja descolado de Chicago pelas grandes exportações já realizadas. O preço médio da soja previsto para o primeiro semestre de 2010 na BMF / BOVESPA com a mesma taxa de câmbio de R$ 1,80 / US$ (em 4 de outubro) era de R$ 36,31 / US$. A cotação nesse pregão, em função do local da entrega, fica acima das do interior de São Paulo e demais Estados produtores.

O fato é que os preços reais recebidos pelos produtores já estão em queda desde julho último. Isso está mostrado no Gráfico 1. O pico neste ano foi alcançado em junho passado. A evolução de nossa taxa de câmbio neste ano foi a seguinte: √ 1ª Q 2009: R$ 2,285 / US$ | √ 05/2009: R$ 2,060 / US$ | √ 06/2009: R$ 1,957 / US$ | √ 07/2009: R$ 1,932 / US$ | √ 08/2009: R$ 1,845 / US$ | √ 09/2009: R$ 1,819 / US$.

Não fosse o bom comportamento dos preços internacionais em maio e junho passados, os preços aos produtores deveriam ter iniciado a queda (do Gráfico 1) em maio e não em junho, como ocorreu. Entretanto, tudo indica que a linha de preços de 2009 logo cruzará a de 2007, ficando abaixo desta.

. Por: Fernando Homem de Melo, professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP e pesquisador da FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. (E-mail:- [email protected])./Fipe

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