Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

05/05/2007 - 06:31

Engenheiro cria robô para inspeção e limpeza de dutos de ar-condicionado


O aquecimento global se transformou no tema da vez nas rodas de discussões sobre os problemas ambientais que podem afetar a ‘saúde’ do planeta e de seus habitantes ao longo das próximas décadas. Mas dentro dos escritórios, auditórios, plenários, teatros e outros espaços artificialmente refrigerados onde o assunto é debatido, uma outra ameaça tem sido negligenciada por autoridades, lideranças empresariais e especialistas em saúde pública: o ar que respiramos. É o que afirma o engenheiro e empreendedor Alexandre Etchebehere, da Robô-In. “A disseminação do ar-condicionado central nas últimas décadas não foi acompanhada pelo desenvolvimento de tecnologias capazes de garantir o controle da qualidade do ar que respiramos dentro desses ambientes”, alerta.

Segundo Etchebehere, análises bacteriológicas realizadas por agências particulares e públicas, dentro e fora do país, têm evidenciado a presença de microorganismos nocivos à saúde dentro de um grande número de edificações climatizadas. Entre estas, os hospitais ocupam o topo das preocupações das autoridades governamentais, que desde o final dos anos 90 buscam uma regulamentação adequada para o setor. De acordo com esses relatórios, uma das principais causas para essa contaminação são os dutos por meio dos quais o ar é conduzido aos diferentes espaços dos edifícios.

“A limpeza dos dutos continua sendo um desafio para os que lidam com o assunto”, diz o engenheiro. “Quase sempre estreitos e de difícil acesso, eles raramente passam por um processo de limpeza adequada”, explica. Em busca de uma solução para o problema, Etchebehere, em associação com a empresa Frioterm Engenharia Ltda., criou um robô multiferramenta capaz não só de percorrer e limpar os dutos dos sistemas de ar-refrigerado, mas também de higienizá-los. O desenvolvimento do robô, que tem apoio da FAPERJ através do edital Rio Inovação, deve entrar em produção até o final de 2007.

Equipado com uma escova e um sistema de aspiração semelhante ao dos aspiradores de pó domésticos, o mecanismo é capaz de limpar as tubulações sem espalhar os resíduos pelo resto do duto. “A sujeira fica acumulada principalmente na base dessas instalações. A maioria dos sistemas disponíveis no mercado coloca um aspirador na extremidade do duto a ser limpo e, em seguida, usa um robô equipado com uma escova acoplada a uma hélice para ‘espanar’ o duto a partir da outra extremidade. Dessa forma, espalha desnecessariamente os resíduos, levando a sujeira para toda a tubulação, incluindo as laterais e a parte superior”, diz.

O Robô-In possui igualmente uma garra para pegar objetos como plásticos, madeiras, pedras vidros etc. Dotado de uma pá, ele ainda é capaz de recolher resíduos como areia, pedras de pequeno porte e lixo. Controlado por um joystick, o mecanismo recebeu uma fonte de luz e uma câmera que transmite imagens de alta definição do ambiente – seja o interior de tanques, tubulações industriais, galerias ou forros – para um monitor do lado de fora. “Ele é capaz de colocar e retirar objetos a uma distância de 30 metros em seções de 200 x 200mm e foi equipado com um sistema de tração por esteira, lisa, de silicone, o que garante sua movimentação mesmo em ambientes com grande acúmulo de poeira ou outros sedimentos. Além disso, é capaz de vencer com facilidade obstáculos como as saliências deixadas pelas chavetas entre as seções de dutos”, destaca Etchebehere.

Associado a empresa Frioterm Engenharia Ltda., Etchebehere finaliza os últimos detalhes de sua invenção para que o equipamento possa ser produzido em série. “Acredito que há um mercado potencial para venda de cerca de 300 unidades/ano de equipamentos de limpeza do gênero. No primeiro ano, nosso objetivo é garantir a comercialização de 30 unidades. Com o aumento gradativo da produção, teríamos condições de alcançar pouco mais de uma centena de robôs negociados ao longo do quarto ano de vendas”.

O preço das primeiras unidades deve ficar entre 6 e 15 mil dólares cada, segundo as estimativas do projeto e dependendo da configuração do equipamento. O preço de modelos importados com características semelhantes gira hoje em torno de 28 mil dólares. De acordo com dados da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento - ABRAVA, há no país cerca de 120 empresas associadas e especializadas na instalação e manutenção de ar-condicionado, e cerca de 50 delas são ou pretendem ser prestadoras de serviços de limpeza e higienização. “Com base em levantamentos feitos no mercado internacional, estamos convencidos de que há espaço lá fora para a exportação do equipamento”, diz. Desenvolvido dentro do conceito de plataforma tecnológica, Etchebehere espera estender a aplicabilidade do robô às necessidades de inspeções submarinas, como nas plataformas de petróleo.

Protótipo do robô foi desenvolvido em oficina doméstica - Em 2004, ao lado de um grupo de colegas de escritório, Etchbehere foi designado para acompanhar o processo de modernização do sistema de ar-condicionado do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), onde trabalha há 28 anos. Na ocasião, ele ficou surpreso com as dificuldades enfrentadas para controlar a qualidade do ar na empresa. “A partir daí, tomei o desafio por conta própria e passei boa parte das minhas horas de folga trabalhando em minha modesta oficina em casa”, conta.

Quando o protótipo do robô começou a dar seus primeiros ‘passos’, em março de 2004, ele procurou a Frioterm e propôs uma parceria. A empresa apostou na idéia e em poucos meses entidades como a FAPERJ e a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) já apoiavam a idéia. O passo seguinte foi o aluguel de um galpão em Duque de Caxias para onde foi transferida em junho de 2006 a oficina caseira desse ‘professor Pardal’. Com o auxílio da Frioterm, Etchebehere pôde aprofundar a pesquisa sobre os problemas ligados à contaminação de ambientes climatizados.

Segundo o engenheiro, estudos realizados nos Estados Unidos indicam que aquele país registra perdas de 10 bilhões de dólares/ano devido à baixa produtividade associada a problemas respiratórios decorrentes da contaminação dos ambientes por agentes como fungos, bactérias, algas e amebas. No Brasil, esse montante equivaleria a cerca de 100 milhões de dólares. A síndrome do edifício doente, como vem sendo chamada pelos especialistas e que as pesquisas indicam atingir cerca de 30% das novas edificações, é apontada como responsável pelo surgimento de alergias, rinites e intoxicações, em alguns casos, com conseqüências graves e irreversíveis. “Os únicos ambientes que têm merecido uma atenção especial são os hospitais e as indústrias voltadas para a produção de fármacos e alimentos, em razão dos eventuais impactos junto à sociedade e à economia", alerta Etchebehere.

O Robô-In já foi exibido em feiras e eventos de tecnologia realizados no Rio de Janeiro, como a Mostra de Meio Ambiente e Responsabilidade Social Empresarial da Baixada Fluminense, em agosto de 2006, e na Rio Oil & Gás Conference, no mês seguinte. Um outro robô está prestes a sair do forno no galpão em que o engenheiro conta com a ajuda de dois assistentes. Trata-se do Tixa – nome inspirado na lagartixa e suas habilidades desta em se locomover por estruturas verticais. A idéia de seu desenvolvimento surgiu a partir da demanda por um equipamento capaz de fazer inspeções em tubulações do forno de hidrogênio da Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), da Petrobrás.

O engenheiro adianta que outras idéias para a criação de novos robôs já estão sendo testadas nas mesas de seu laboratório. Mas, por ora, prefere não revelar os novos caminhos por que trilham suas pesquisas. Afinal, recomenda-se proteger da curiosidade alheia invenções ainda em fase de testes. A atitude de Etchebehere nada tem de reprovável. O país e sua comunidade científica parecem ter aprendido a lição com os prejuízos – ou, inversamente, a falta de ganhos – causados por criações não-patenteadas que foram levadas para o exterior com grande sucesso e que nenhum benefício trouxe para seus criadores ou para o país. * Mais informações: http://www.roboin.com.br e http://www.friotermrj.com.br/ | Por: Paul Jürgens/Faperj

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira