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05/05/2007 - 07:23

Porque o brasileiro compra no crediário?

O meio em que vivemos exerce uma enorme influência sobre a forma como lidamos com o dinheiro. Infelizmente não é possível isolarmos do meio em que vivemos, logo devemos admitir que somos, a um só tempo, causa e efeito de nossas ações. Se não podemos nos separar desse meio, podemos, até certo ponto, dele nos proteger, dominando o que chamamos de “medo”, que tem sido, até aqui, a força propulsora de nossas ações de vivência.

O medo, a ansiedade, o orgulho, a vaidade, a ira e outros sentimentos fazem-nos responsáveis pelo consumismo no ambiente em que vivemos.

Somos influenciados pelas empresas e pelo comércio a consumir mediante as “maravilhosas” formas de pagamento, fantásticas promoções e propagandas que aguçam nossa vontade de comprar. Somos manipulados por campanhas agressivas de marketing que não deixam analisar as condições de pagamento que realmente estamos contratando. No final, contratamos serviços e planos que não queríamos.

Uma das formas “milagrosas” de se fazer compras é por meio do crediário. Esse sistema é para muitos brasileiros a única maneira encontrada de se fazer suas compras. O hábito de comprar pelo carnêzinho passa de geração à geração, mas esse costume pode estar atrapalhando ao invés de ajudar.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 42 milhões de famílias de todo o país sofrem de endividamento crônico. Isso comprova que o cidadão não está consciente de seus atos mediante a situação financeira. Neste caso é preciso ter muito cuidado. As lojas estão elevando os preços à vista e dando a opção de pagamento em prestações. Se no futuro o consumidor desejar pagar essas parcelas antecipadamente, ele não obterá o desconto, pois o valor a prazo era o mesmo à vista. O importante e que sejam efetuadas várias pesquisas em lojas diferentes para saber a diferença nos valores à vista e a prazo. Consumidor inteligente é aquele que sabe poupar e com isso tem poder de barganha na hora de negociar qualquer compra.

Antes de comprar parcelado o consumidor deverá observar quanto de juros está sendo aplicado em cada parcela. Muitas vezes, nas parcelas de pequenos valores são embutidos percentuais de juros assustadores, que o consumidor não percebe quando esta fechando o negócio, mas perceberá quando for pagar o compromisso assumido.

Hoje em dia as lojas não respeitam mais uma regra básica do capitalismo: o direito à concorrência. Parece que tudo está tabelado por algum órgão supremo, invisível e não identificável: não vemos mais variações de preço entre um mesmo produto em lojas diferentes, o que dificulta o poder de negociação do consumidor, que acaba tendo de obedecer às regras, preços e prazos de pagamentos ditados pelas grandes empresas. Isso se soma ao fato de o consumidor brasileiro ser muito impulsivo. Compra sem ter necessidade e sem planejamento. Uma verdadeira fábrica de consumo.

O CDC, Código de Defesa do Consumidor, estabelece em seu artigo 31 que a oferta e a apresentação de produtos e serviços devem apresentar informações claras, precisas e ostensivas sobre características, qualidade, quantidades, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem entre outros dados. Mais à frente, em seu artigo 52, assegura que no fornecimento de produtos ou serviços que envolvam outorga de crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, informar soma total a pagar com e sem financiamento e multas de mora por inadimplemento que não poderão ser superior a 2% e montante da taxa efetiva anual de juros.

Ora, se o CDC estabelece que o preço informado ao consumidor deve refletir o valor para pronto pagamento, estamos diante de flagrante descumprimento da legislação, sendo o consumidor obrigado a recorrer a cálculos matemáticos para conhecer o preço do produto.

Grande parcela do comércio continua tratando seus consumidores como se fossem incapazes de fazer contas, aliando-se às financeiras e operadoras de crédito em detrimento do cidadão. Infelizmente o sistema de defesa do consumidor, em todos os níveis, ainda se mostra incapaz de promover a fiscalização e as sanções necessárias para coibir os abusos. Lastimável!

Por: Cláudio Boriola Consultor Financeiro, Conferencista, Especialista em Economia Doméstica e Direitos do Consumidor. Fundador e Presidente da Boriola Consultoria empresa criada há mais de treze anos. Autor dos livros Paz, Saúde e Crédito - Práticas de Negociação - De Um tostão a Um Milhão e do Projeto para inclusão da disciplina "Educação Financeira nas Escolas".

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