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06/11/2009 - 12:07

Valorização cambial prejudica competitividade do agronegócio brasileiro


Volatilidade cambial foi maior na taxa de troca entre reais e dólares, o que resultou em perda de rentabilidade ao produtor rural.

A Sociedade Rural Brasileira (SRB) – www.srb.org.br - divulgou no dia 5 de novembro (quinta-feira), um estudo sobre o impacto da valorização cambial no agronegócio e na economia brasileira. O real obteve uma valorização de 32% frente ao dólar entre dezembro de 2008 até setembro deste ano. O euro, por sua vez, registrou uma valorização de cerca de 8,1% em relação à moeda americana no mesmo período.

Com a volatilidade cambial maior na taxa de troca entre reais e dólares do que entre outras moedas, as exportações agropecuárias brasileiras, especialmente, as commodities, cujo fator preço é preponderante e a taxa de câmbio é fundamental, vêm sofrendo perdas de competitividade e rentabilidade.

“A apreciação cambial (real excessivamente valorizado frente ao dólar) impacta brutalmente o produto rural brasileiro e, se nada for feito em relação ao câmbio, o endividamento rural se agravará”, enfatizou o presidente da Rural, Cesário Ramalho da Silva.

Para o Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, João Sampaio, um dos grandes problemas na questão cambial é que ainda temos juros muito altos, que atraem capital especulativo, interessado em rápida e alta rentabilidade.

Preço da soja safra 2009-2010 - A soja, por exemplo, ficou 32% mais cara no mercado internacional. O preço médio da saca de soja (60 kg) cotada na bolsa de Chicago em setembro estava na casa dos US$ 20,60. Levando-se em conta a taxa de câmbio média de dezembro de 2008 (R$ 2,40 / US$) a importação por um país de uma saca de soja brasileira custaria US$ 8,60, ao passo que em setembro último, quando a taxa de câmbio média ficou em R$ 1,82/US$, a mesma saca de soja custaria ao importador US$ 11,30.

“A soja, como qualquer outra commoditie de exportação, sofre diretamente com as oscilações da moeda e os preços internacionais. A super-safra que se avizinha (Brasil, Argentina, Estados Unidos) fará com que ocorra uma oferta gigantesca do produto, criando um cenário baixista para as cotações da oleaginosa na Bolsa de Chicago, que é referência de preços mundial”, explicou Ramalho.

No caso do sojicultor, a queda de rentabilidade seria de 24,2%, uma vez que receberia R$ 49,44 pela saca de soja caso a exportação fosse efetuada em dezembro do ano passado, valor que passaria para R$ 37,47 caso a exportação fosse efetuada em setembro último.

Outras culturas - O estudo da Rural ainda atesta que, apesar das variações cambiais, as exportações brasileiras de algumas commodities – açúcar, algodão e suco de laranja – ainda mantêm uma margem positiva de rentabilidade e têm mantido uma significativa taxa de crescimento, gerando ganhos de participação no mercado internacional.

“O aumento da produção e a diminuição da demanda formam um cenário baixista dos preços, agravado pela questão cambial, para todos os produtos, com exceção de algumas culturas, como o açúcar, em razão da demanda crescente da Índia”, explicou o economista da Rural, André Diz.

No caso da soja, milho e café, mesmo com a perda de rentabilidade registrada entre dezembro de 2008 e agosto último, a margem de lucro ainda se mantém positiva, com os preços de comercialização ainda sendo superiores aos custos de produção, fazendo com que a taxa de câmbio, em si, não seja motivo de preocupação, mas sim sua tendência definida de valorização, o que pode afetar diretamente a capacidade produtiva do setor sem endividamentos.

Segundo o vice-presidente da Rural, Roberto Ticoulat, no caso do café, o mercado internacional continuará precisando do produto brasileiro. Porém, o sistema de comercialização de café no Brasil é arcaico, já que ainda não é permitido, por exemplo, o drawback (desoneração de impostos na importação vinculada a um compromisso de exportação).

Impacto no agronegócio nacional - Além da perda de rentabilidade e competitividade, com um processo de valorização cambial contínuo, ocorre o barateamento dos produtos importados. Com isso, os produtos nacionais apresentam uma redução de margem de comercialização tanto no mercado interno quanto no mercado global. Por outro lado, a remuneração aos produtores rurais, pela indústria, também tende a diminuir, gerando um processo de perda de capacidade de crescimento de um setor que representa mais de 26% do PIB nacional. “A paridade foi um desastre para a agricultura brasileira. Quebrou nosso setor produtivo”, ressaltou o presidente da Rural, Cesário Ramalho.

Outro impacto da valorização cambial está na redução dos investimentos por parte dos produtores rurais e das grandes indústrias, resultando, em um primeiro momento, no encarecimento dos insumos da agroindústria e na redução de sua competitividade.

Esse processo de valorização das taxas de câmbio ainda reduz a capacidade de inserção da Brasil como um player de destaque no rearranjo econômico global, processo que se consolida com a maior importância dos países emergentes (com destaque para os Bric’s) na economia mundial.

Ramalho ainda afirmou que “o Brasil tem de rever a política cambial, pois estamos sem uma solução à vista. O BC tem que se preocupar, o presidente Lula que se preocupa tanto com a agricultura também tem que estar a atento, pois estamos perdendo mercados e o produtor ficará no prejuízo”.

Desafio - O agronegócio brasileiro é uma oportunidade estratégica para o crescimento da economia nacional no mercado mundial. Por isso, a política monetária deve estar adequada para que o setor agropecuário seja um irradiador de sua competitividade através da agroindústria.

A valorização do dólar (ou de desvalorização da taxa de câmbio) permite que as margens de comercialização dos produtores rurais e da agroindústria se ampliem com uma maior atratividade das exportações brasileiras no comércio mundial.

Porém, o ideal não é um câmbio sobre-desvalorizado, o que encareceria demais as importações de bens de capital, reduzindo as taxas de formação bruta de capital fixo (investimento), sem gerar o benefício do crescimento e desenvolvimento econômico desejado. “Poderíamos ter um dólar na casa de R$ 2,10”, sugeriu o Secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, João Sampaio.

Outro desafio apresentado pelo presidente da Sociedade Rural Brasileira, Cesário Ramalho da Silva, é a impossibilidade de assimilar o chamado "Custo Brasil", especialmente, no tocante à infraestrutura logística, que acaba estourando no bolso do produtor. “Precisamos urgente de melhorias no transporte, no armazenamento, em portos”, assinalou.

Importância para a economia brasileira - Segundo cálculos do CEPEA - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, a produção agropecuária representa 7% do Produto Interno Bruto da economia brasileira no ano de 2008, participação que apresenta estabilidade nos últimos 14 anos, variando de uma participação mínima de 6% em 2006 e máxima de 7,8% em 2003.

Porém, a participação do PIB agropecuário entre os estados brasileiros apresenta a relevância desse setor entre as diversas regiões do Brasil. Considerando os dados de 2006, o PIB agropecuário representa 19,8% do PIB dos estados que compõe a região Centro-Oeste, importância que se reduz para 12,8% na região Nordeste e 12,0% na região Sul. Nas regiões Norte e Sudeste a participação média do PIB agrícola sobre o PIB regional é de 11,6% e 5,7% respectivamente.

A participação do PIB agropecuário sobre o PIB estadual do Mato Grosso foi de 22,2% em 2006, com significativas taxas de participação nos estados de Rondônia (17,1%) e Tocantins (16,7%). Por outro lado, os estados de São Paulo (1,8%), Rio de Janeiro (0,4%) e Distrito Federal (0,2%) são as regiões com menor taxa de participação do PIB agropecuário frente ao PIB total da região.

Essas taxas de participação evidenciam a importância que o setor agropecuário primário tem na dinâmica de desenvolvimento regional, sendo um importante vetor de crescimento econômico em regiões distantes do pólo Sul-sudeste.

Quando se considera toda a cadeia agroindustrial, os cálculos do CEPEA apontam para um participação de 26,5% do PIB nacional. Entre os anos de 2007 e 2008, o PIB da agroindústria registrou taxas de crescimento superior às taxas registradas pelo PIB total; em 2007, enquanto a economia brasileira registrou variação anual de 5,7%, o PIB do complexo agroindustrial apresentou taxa de 7,9%, passando para 7,0% de crescimento em 2008 (quando o PIB brasileiro registrou elevação de 5,1%).

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