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11/05/2007 - 08:38

Octavio Frias de Oliveira: a passagem de um grande brasileiro

A surpresa foi grande, quando recebemos o telefonema da redação da “Folha de São Paulo”. A voz não demorou a dar a má notícia: “O seu Frias morreu e gostaríamos de uma opinião a respeito. Sabemos que o sr. foi grande amigo dele.”

Como resumir numa frase a imensa admiração pelo homem que transformou o seu jornal numa trincheira em defesa das liberdades democráticas? Foi uma grande personalidade, empresário bem sucedido, e depois jornalista de primeira qualidade.

O nosso conhecimento tem mais de 40 anos. Convidados pelo amigo Calazans Fernandes, almoçamos pela primeira vez na sede da rua Barão de Limeira, ouvindo as palavras do chefe, apreciando as suas aguçadas observações, e plantando ali a semente de uma amizade que jamais sofreu qualquer pane. Na ocasião, a Folha lançava o seu pioneiro Caderno de Educação. Anos mais tarde, foi a vez de atender a uma ponderação do jurista Ives Gandra Martins: “Não é possível ficar tanto tempo sem visitar o Frias.” Quando citamos “Dr. Frias”, Ives nos deu o grande conselho: “Jamais chame assim. Ele detesta esse título de doutor.”

Homem simples, com quatro filhos maravilhosos, fruto de uma longa lua de mel com D. Dagmar, Octavio Frias de Oliveira era muito atento à política brasileira, detestando com grande fervor os que se valiam dos cofres públicos para encher os bolsos. Com grande sinceridade, em nossos almoços (como gostaríamos que tivessem sido mais numerosos) ele abria uma conversa franca e transmitia isso aos circunstantes, na presença dos filhos. A despedida, na saída, era sempre com um beijo na face.

No ano passado, tivemos o privilégio de participar da solenidade em que o “seu” Frias foi homenageado pelas Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAM) com o título de “professor honoris causa”. Ele estava visivelmente comovido, depois de ter vivido tantas emoções aparentemente maiores. Gostou da homenagem e prometeu que ampliaria o convívio com os jovens universitários.

Há pouco tempo, na Academia Brasileira de Letras, a convite de Marcos Vilaça, trouxe toda a família de São Paulo, para acompanhar o lançamento do livro “A trajetória de Octavio Frias de Oliveira”, de Engel Paschoal. Fomos ao seu encontro. Depois do abraço apertado, a confissão “Volto ao Rio com muita alegria. Sabia que nasci em Copacabana?” Sabíamos, inclusive com o pormenor de que era descendente do Barão de Itambi, grande figura do Segundo Reinado. Raízes nobres que nunca faltaram ao homem disciplinado e doce no trato.

Não se considerava propriamente jornalista. Na década de 90, para prestigiar os filhos, que amava, cedeu a direção do complexo, passando à condição de publisher do Grupo Folha. Não foi pretexto para antecipar a aposentadoria que nunca ocorreu, na vida de 94 anos. Apenas uma forma de olhar a sua obra do alto, para enxergar suas necessidades futuras, como a constante renovação do parque gráfico e a incorporação de novos produtos, como o jornal “Valor”, em parceria com as Organizações Globo.

A vida de Octavio Frias de Oliveira continuará, na devoção dos seus seguidores.

. Por: Arnaldo Niskier, professor emérito da ECEME e membro da Academia Brasileira de Letras. (e-mail: [email protected])

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