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17/01/2012 - 10:00

Parceria pode ser solução para o problema do lixo no Brasil


O país tem 2.906 lixões oficiais e uma cultura de reciclagem pouco valorizada.

O aprofundamento das questões ambientais em todo o mundo despertou também o Brasil para a necessidade de discutir o problema do lixo proveniente das residências, comércios e indústrias. O governo brasileiro elaborou o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, cuja versão preliminar já está disponível na internet para consulta.

O documento, que será amplamente discutido com a sociedade para, então, ser validado em Brasília, traz um panorama do tratamento dado aos resíduos sólidos gerados no país e sugere metas, algumas ousadas, como a eliminação total dos lixões até 2014.

A discussão do plano está apenas começando. Mas, é um passo importante para a mudança de cenários urbanos e rurais, onde montanhas de lixo se acumulam e nelas materiais importantes que poderiam ser reciclados.

Embora o país ainda não tenha um plano de resíduos consolidado, existem experiências bem-sucedidas no Norte do país que sinalizam ao menos uma preocupação em fazer diferente, mesmo que a nível local. São iniciativas que nascem do compromisso de fazer melhor e de resguardar o futuro das próximas gerações no meio da Amazônia.

A seleção de resíduos já é realidade em Porto Trombetas, no Oeste Pará, área de atuação da Mineração Rio do Norte (MRN). A empresa assumiu o compromisso de orientar os habitantes da vila para os cuidados com o lixo e, bem mais que isso, cuidar para que materiais recicláveis tenham um destino adequado.

O envolvimento dos moradores de Porto Trombetas com a gestão responsável do lixo não é recente. A vila, que pertence ao município de Oriximiná, foi o primeiro lugar do Brasil a receber a certificação da norma ISO 14001, ainda em 2001. A norma, que tem reconhecimento internacional, define o que deve ser feito para estabelecer um Sistema de Gestão Ambiental efetivo, garantindo o equilíbrio entre a manutenção da rentabilidade de uma empresa e a redução do impacto ambiental.

Em Porto Trombetas, a coleta seletiva faz parte da rotina dos moradores. Todos são orientados a separar corretamente os resíduos que produzem, as coletas são sistêmicas e nem o lixo vegetal, como folhas de árvores e galhos vai parar junto com o lixo comum. “Buscamos a participação da comunidade, pois sem ela não existe coleta seletiva e gestão de resíduos”, diz Arlete dos Santos, responsável pela gestão ambiental na vila que tem cerca de sete mil habitantes.

O resíduo úmido, como as sobras de alimentos, por sua vez, vai para a Usina de Triagem e Compostagem e, após receber tratamento, retorna como adubo orgânico. As casas da vila residencial, em sua maioria, têm jardins que utilizam o adubo na manutenção das plantas. É mais uma ação da MRN com foco na sustentabilidade, incentivada pelo projeto Jardim Somando Verde, outra iniciativa educativo-ambiental promovida pela empresa. Já o papelão, plástico e outros materiais recicláveis, chamados de resíduos secos, são doados para o Movimento República de Emaús, em Belém, uma parceria que existe há nove anos.

O Movimento República de Emaús atua em diversas frentes de inserção social e tem, no seu quadro de ações, cursos de reciclagem. A expertise da instituição de transformar sobras em utilidades chamou a atenção da MRN, que passou a enviar, mensalmente para o Emaús, materiais como alumínio, latas, papelão, pets e plástico rígido. O material, que percorre 880 quilômetros, de Porto Trombetas a Belém, é fonte de renda e de reintegração social de mulheres cujas famílias estão em situação de vulnerabilidade social.

“Normalmente, são donas de casa que vem para o Movimento porque o filho está sendo atendido também por nós. São mulheres que viviam em casa e que não tinham como ajudar na composição de renda familiar. A MRN é nossa maior parceira e ajuda a manter o trabalho com esse e outros grupos, abrindo para eles um mundo novo”, explica a secretária executiva do Movimento República de Emaús, Marília Soares.

A MRN doou cerca de 50 toneladas de recicláveis para o Emaús em 2010 e mais de 60 toneladas em 2011 – material que é selecionado e transformado em agendas, cadernos, porta-lápis e objetos de decoração, pelas mãos de pessoas como Leonisa Vieira, que se tornou artesã depois de fazer um curso de reciclagem de papel no Emaús. “Dá pra fazer tudo o que você quiser do papel, de cartões a bolsas. Reciclar não é só catar o lixo, mas olhar lá na frente. Ver que dá pra fazer com o papel e como você pode melhorar o meio ambiente com essa atividade”, argumenta.

A artesã afirma que a profissão ainda não é muito valorizada. “Acho que devia haver outros projetos de separação do lixo. Ainda tem muita gente que cata ferro e pets nas ruas, revirando os sacos”, lamenta. Com as atividades de reciclagem, Leonisa contribui com a renda familiar. Fatura cerca de R$ 300 por mês com as vendas do material transformado. “Não é sempre que a gente vende muito. Vendemos mais no final de ano e nas feiras de eventos. Mas é um trabalho muito bom de fazer e que ajuda muitas pessoas a se socializarem. Você conhece gente nova o tempo todo. E tem também informações de cidadania, aqui, no Emaús”, completa.

De acordo com o relatório do Ministério do Meio Ambiente, existem entre 400 e 600 mil catadores de materiais recicláveis no Brasil e apenas 1.100 organizações coletivas formadas para esse tipo de atividade. Ou seja, muito do lixo reciclável produzido ainda é retirado de forma individual por pessoas que remexem nas lixeiras comuns, procurando materiais retornáveis no meio de restos de alimentos, por exemplo, o que muitas vezes compromete a reutilização do material.

A reciclagem é uma tendência no Brasil, mas ainda está em fase inicial. O relatório preliminar do Plano Nacional de Resíduos Sólidos aponta um aumento de 120% da coleta seletiva de materiais recicláveis entre 2000 e 2008 no número de municípios que desenvolvem tais programas. Ao todo 994 unidades federativas adotam essa prática no país, a maioria delas nas regiões Sul e Sudeste. Contudo, a participação dos resíduos recuperados pelos programas de coleta seletiva formais ainda é muito pequena, o que torna a iniciativa de Porto Trombetas ainda mais representativa. Dar um destino melhor aos resíduos sólidos por meio de parcerias de incentivo à reciclagem, portanto, é um passo inicial importante em direção à erradicação dos 2.906 lixões existentes no país.

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