Reserva da Votorantim ganha identidade própria

Maior área privada de Mata Atlântica do país, com 31 mil hectares, passa a se chamar ‘Legado das Águas – Reserva Votorantim’.

São Paulo – A maior área privada de Mata Atlântica do país ganhou identidade própria. Preservada pelo Grupo Votorantim há mais de 50 anos, a reserva de 31 mil hectares de florestas nativas está localizada ao sul do Estado de São Paulo, na bacia do Rio Juquiá. A partir de agora, a área passa a se chamar “Legado das Águas – Reserva Votorantim”.

“Legado das Águas” é um conceito criado a partir de conversas com moradores, identificação das lendas da floresta e da origem indígena dos nomes dos rios e dos municípios. “Esse estudo de campo mostrou que a água é o grande denominador comum daquela região”, diz Luiz Carlos Dutra, diretor de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Votorantim.

Também o conceito de “legado” tem relação com a preservação da área, que abriga um complexo de sete usinas hidrelétricas da Votorantim e começou a ser preservada há mais de 50 anos. Em uma demonstração da visão de longo prazo, o Grupo adquiriu terras no entorno dos rios com o objetivo de evitar o desmatamento e preservar as nascentes, garantindo abundância permanente de água para a vida na região e para a operação das suas usinas.

Em 2012, o Grupo Votorantim e o governo do Estado de São Paulo firmaram um protocolo de intenções, para a criação de uma reserva privada que tivesse um modelo de governança compartilhada. O objetivo foi criar um polo de desenvolvimento sustentável, abrindo a área para atividades de pesquisa científica, conservação do ecossistema e desenvolvimento de projetos envolvendo as comunidades.

Legado das Águas-A sondagem realizada concluiu que a água vem unindo as populações que vivem naquela região há décadas. Isso pode ser verificado no significado dos nomes indígenas de alguns municípios e rios, como Juquitiba (Terra de muitas águas) e Juquiá (Rio escuro que desce a serra). As lendas da região também revelam essa ligação com os rios, como a do Neguinho D’Água (meio menino e meio peixe que protege os peixes dos pescadores) e a Cobra Grande (que vira os barcos para defender os peixes).

“A criação do ‘Legado das Águas’ é uma forma de perenizar essa história, preservando para as gerações futuras um santuário de Mata Atlântica, além de ajudar a construir um patrimônio cultural e científico para a sociedade”, explica Luiz Carlos Dutra.

O desenvolvimento de uma marca própria é mais um importante passo para o desenvolvimento da parceria entre iniciativa privada, poder público e sociedade. Após a assinatura do protocolo de intenções, as primeiras parcerias com a comunidade acadêmica começaram no início de 2013, com expedições de pesquisadores da USP, ESALQ e Unicamp, com o objetivo de mapear a flora da região. Como resultado, a equipe coordenada pelo professor Ricardo Ribeiro Rodrigues identificou 782 espécies de plantas. Para 2014, está prevista a publicação do primeiro Guia de Campo da Mata Atlântica.

No momento, está em curso uma pesquisa da Associação Pró-Muriqui, em busca da identificação de existência desse macaco na região. O Muriqui é o maior símio das Américas, uma espécie em extinção que é nativa da Mata Atlântica. As expedições são coordenadas pelo professor Maurício Talebi, da Unifesp, um dos maiores especialistas nesse animal do país. Os resultados dessa pesquisa devem ser apresentados em 2014.

A Mata Atlântica é um dos biomas mais ricos em biodiversidade do mundo. O “Legado das Águas – Reserva Votorantim” contribui para a preservação dessa biodiversidade por ser uma área contígua ao Parque Estadual do Jurupará, formando um corredor ecológico de Mata Atlântica entre o interior e o litoral sul do Estado de São Paulo. “Em 2012, tínhamos um protocolo de intenções assinado com o governo do Estado”, diz Luiz Carlos Dutra. “Em 2013, a Reserva se tornou uma realidade.” [www.legadodasaguas.com].