Reserva Natural Vale: um exemplo de preservação

Adquirida pela empresa nos anos 50, área detém maior viveiro de mudas da América Latina e tem capacidade de produção de 55 milhões de unidades.

Com 22 mil hectares, a Reserva Natural Vale, em Linhares (norte do Espírito Santo), é reconhecida pela Unesco como Sítio do Património Natural Mundial da Costa do Descobrimento e detém o maior viveiro de mudas da América Latina. Sua capacidade de produção anual é de 55 milhões de unidades, de mais de 800 diferentes espécies tropicais e com maior ênfase nas de Mata Atlântica. Em 2007, a colheita bruta de semente foi de aproximadamente 1,6 toneladas.

Desde que foi adquirida pela Vale, nos anos 50, até hoje, já foram catalogadas 2.650 espécies botânicas, 7.200 tipos de insetos e 100 de mamíferos. Neste período, foram identificados ainda também 369 espécies de aves, que correspondem a 25% das aves brasileiras e 5% das aves do mundo. Através da pesquisas sobre a flora, foram descobertas no local 96 novas espécies botânicas. Hoje, a Reserva Natural Vale é um banco genético e um centro de pesquisas em silvicultura tropical respeitável e de reconhecimento internacional.

Ao lado da reserva, que é inteiramente auto-sustentável, está localizada a Reserva Biológica de Sooretama, com 24 mil hectares, uma unidade de conservação federal, administrada pelo Ibama, e que a Vale ajuda a preservar, sobretudo no que diz respeito à proteção contra caçadores e incêndios florestais.

As duas áreas constituem o maior remanescente de Mata Atlântica em área plana do Brasil. Juntas, correspondem a aproximadamente 10% da área de Mata Atlântica remanescente no Espírito Santo. No contexto histórico, as duas reservas ganham uma importância ainda maior no cenário ambiental brasileiro atual. No início do século passado, a Mata Atlântica cobria praticamente todo o Espírito Santo. Hoje, desta cobertura, só restam.apenas 11,24% no Estado e 7% no país dispersa em áreas fragmentadas e, muitas delas, sem qualquer proteção.

Para manter a sua finalidade de preservação, conservação e pesquisa, com ênfase no uso sustentado dos recursos naturais e no desenvolvimento de tecnologia para recuperação de áreas degradadas, a Reserva Natural Vale desenvolveu um plano diretor, com,programas que a tornam auto-sustentável.

Uma das diretrízes do plano foi a de abrir a reserva ao público. Antes só acessível a pesquisadores e pessoas convidadas pela empresa, a área também está aberta à visitação para interessados em conhecer a deslumbrante Mata Atlântica e usufruir sua beleza, relaxar ao som das inúmeras aves e estabelecer um contato mais próximo com a natureza, através de trilhas na floresta.

Jacarandá - A Reserva Natural Vale é reserva genética do jacarandá, a árvore mais valiosa do mundo (o metro cúbico custa US$ 10 mil), da macanaíba, da peroba amarela, do paraju e de outras espécies importantes da flora tropical, como a castanha do Pará, cuja preservação também é garantida pela implantação de um banco genético na Reserva. Além disso, são desenvolvidas no local pesquisas sobre a fauna com foco no conhecimento da riqueza e diversidade e em aspectos ecológicos relacionados à conservação das espécies. Entre estas pesquisas, destaca-se o Projeto Felinos, que monitora desde 2005 as espécies de felinos presentes na reserva, por meio de armadilhas fotográficas. A partir desse projeto, já foi possível identificar nove onças-pintadas (Panthera onça} na região, que representam uma das últimas populações desde tipo de felino da Mata Atlântica.

Não há remanescente de Mata Atlântica tão bem cuidado e conhecido no Brasil como a Reserva Natural da Vale, sobretudo se for considerado o fato de que ela se localiza numa condição de relevo plano, ideal para exploração madeireira e agropecuária. De acordo com o gerente geral de Biodiversidade da Vale e responsável pela Reserva, o engenheiro florestal Renato de Jesus, os pesquisadores internacionais ficam surpresos quando chegam e percebem o nível de conservação e conhecimento da área. "Eles perguntam como a Vale conseguiu , conservar esse pedaço da Mata Atlântica aqui, pois lá fora pensam que no Brasil não há mais nada e pouco se conhece sobre ela. Acham que já está tudo devastado", afirma.

Os pesquisadores da reserva desenvolveram tecnologia para recuperação de florestas secundárias e de proteção e recuperação das margens dos corpos d'água (nascentes, córregos, rios e lagoas). Esta tecnologia de recuperação é difundida por todo o Brasil através da implantação de diversos projetos de restauração não somente nas áreas mineradas da Vale, mas também nas comunidades onde ela atua.

No Espírito Santo, através de um convénio com o governo do Estado, foram implantados quatro grandes projetos envolvendo diversas propriedades rurais e unidades de conservação em Cachoeiro do Itapemirim, Guarapari, Santa Maria do Jetibá e Pinheiros com mudas produzidas no viveiro da Reserva.

A Reserva também é uma das entidades brasileiras cadastradas, internacionalmente, como disseminadora de semente ou, como dizem os cientistas, do germoplasma florestal. Com este banco genético, ela teria condições de fornecer material necessário a recuperar grande parte da Mata Atlântica.

Riqueza aberta à visitação - O complexo reservado à visitação possui sete trilhas, com percursos que variam de 900 a 1500 metros com diferentes atrativos e que podem ser percorridas, em média, em cerca de urna hora. Em um grupo de, no máximo, 20 pessoas, a caminhada começa tendo à frente um orientador ambiental recrutado, na própria região, e treinado pelos profissionais da Reserva.

A trilha mais procurada é a do Pequi Vinagreiro, mas o visitante pode ainda conhecer a Trilha do Arboreto (coleção de árvores de diferentes espécies tropicais), a Trilha da Restauração da Mata Atlântica (onde se aprende a fazer restauração ambiental); a Trilha do Palmeto (coleção de palmeiras); a Trilha do Reflorestamento com espécies de Mata Atlântica; a Trilha do Pomar de Frutas Tropicais (com mais de 100 espécies) e a Trilha de Produção de Mudas (viveiro).

Trata-se na realidade da prática da educação ambiental, ao vivo e a cores. Quem percorrer a Trilha do Pequi Vinagreiro, por exemplo, vai ver e saber como vivem os cupins e quais são as espécies utilizadas na medicina popular encontradas na floresta. Já na Trilha do Palmeto, onde já existem plantadas mais de 250 diferentes espécies de palmeiras de várias partes do mundo, as pessoas poderão aprender sobre a lenda do fruto que chora e que explica a origem do açaí; as mil e uma utilidades do babaçu, conhecido como a mãe-de-leite dos maranhenses e as deliciosas receitas culinárias feitas com o palmito-doce, entre muitas outras espécies que ocorrem em nosso país.

Mas se o interesse for ganhar dinheiro, siga a Trilha do Reflorestamento. Lá serão colhidas algumas informações preciosas como a de que o eucalipto e o pinus não são as únicas espécies próprias para reflorestamento. Evidencia-se ali a possibilidade de se usar o jequitibá-rosa para esse fim, onde um hectare, plantado com essa espécie, pode render aos 30 anos, até 60 mil dólares por hectare, ou seja, uma considerável poupança verde e aposentadoria.

E não precisa ficar de pé. Em todas as trilhas existe um cantinho, versão ao ar livre de uma pequena sala de aula com 20 banquinhos devidamente protegidos.

Para lazer e conforto de todos, a Reserva investiu na construção, ampliação e reforma das instalações de visitação e hospedagem. Além de dois restaurantes com capacidade para servir 300 refeições por dia, o visitante ainda pode contar com uma cafeteria ao lado da lojinha de suvenires onde são vendidos bonés, camisetas e outros produtos com a marca da Reserva. Para as crianças, há um parquinho com brinquedos feitos à base de madeira de reflorestamento, situado à sombra de cajueiros.

A Reserva oferece ainda uma completa infra-estrutura para eventos como: dois auditórios com capacidade para 74 e 172 pessoas, um centro de treinamento, estacionamento para 150 carros, enfermaria (para primeiros socorros).