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04/12/2009 - 11:39

“Não podemos adiar a definição de metas globais de redução das emissões de gases do efeito estufa”


Citações em entrevista com André Ferretti, especialista da Fundação O Boticário, que estará na COP 15, que acontece este mês em Copenhague.

O engenheiro florestal e coordenador de conservação da biodiversidade da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, André Ferretti, vai acompanhar de perto as negociações da 15ª Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP 15), especialmente as da delegação brasileira.

Na entrevista abaixo, ele fala sobre as propostas e expectativas da Fundação O Boticário em relação à COP15 e comenta os prejuízos de adiar a definição de uma meta global de emissões dos gases do efeito estufa.

Ele estará na Dinamarca, de 10 a 15 de dezembro, com a proposta de contribuir e influenciar a delegação brasileira nas decisões para a redução das emissões dos gases do efeito estufa, divulgar a posição da Fundação O Boticário, participar de palestras e reuniões técnicas de capacitação e fazer contatos com instituições e profissionais da área de mudanças climáticas e conservação da biodiversidade.

Qual a participação da Fundação O Boticário da COP15? . André Ferretti: Vamos participar como observadores e acompanhar de perto as negociações. Já encaminhamos aos envolvidos nas negociações internacionais e nas políticas públicas nacionais de mudanças climáticas um documento com o resultado dos dois debates sobre mudanças climáticas que promovemos em setembro, em Curitiba, durante o VI Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), que é um dos mais importantes da América Latina e reuniu mais de 1.200 pessoas. Neste documento, apresentamos os principais pontos e sugestões discutidas por especialistas e cientistas que participaram dos debates, com especial destaque para a necessidade de conservar áreas naturais para recompor a biosfera terrestre.

As demais sugestões do documento são aprovar a Política Nacional de Mudanças Climáticas, em tramitação no Congresso Nacional; reduzir drasticamente o desmatamento em todos os biomas do país; adotar políticas públicas voltadas a uma economia de baixa intensidade de carbono; e contribuir para a criação de um mecanismo da REDD (Reduções de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) que permita o aporte de recursos para o apoio a gestão e criação de unidades de conservação. * O documento está disponível no site da Fundação O Boticário www.fundacaoboticario.org.br

A Fundação O Boticário defende alguma proposta em especial? - Sim, defendemos a necessidade de proteger as áreas naturais por meio da criação de unidades de conservação, principalmente as de proteção integral. Essas áreas são estratégicas para a manutenção dos estoques de carbono, pois promovem a redução de desmatamentos e queimadas, principais fontes de emissões de gases do efeito estufa no Brasil.

As áreas protegidas também são fundamentais para a restauração de áreas já alteradas pelo ser humano, conservam a biodiversidade e os serviços ambientais, como qualidade da água e melhoria do microclima.

O Brasil é um dos países com maior biodiversidade em todo o mundo, por isso é extremamente importante que o país assuma uma postura conservacionista. Isso colocará o Brasil numa condição de liderança perante o mundo.

Qual a expectativa da Fundação O Boticário em relação à COP 15? . AF: A expectativa é que a COP 15 termine com a aprovação de um novo acordo de clima global para o período pós 2012, e que a definição de uma meta global de redução de gases do efeito estufa não seja adiada.

Quais os prejuízos de adiar a definição de uma meta global de redução na COP15? . AF: Se isso acontecer, vai haver um desânimo geral, muitos setores da sociedade que vêm adotando medidas importantes para redução de emissões e adoção de tecnologias limpas poderão reduzir esforços. Países, Estados e Municípios têm criado Políticas de Clima, leis e normas; empresas têm investido em pesquisas e mudanças; cidadãos adotam medidas de redução de emissões, e agora os representantes maiores da sociedade, Partes da Convenção do Clima, não podem simplesmente deixar a definição de metas para depois.

Não dá para esperar mais e ainda por cima correr o risco de desmobilizar a sociedade. Os cientistas já falam que os impactos das mudanças climáticas estão sendo 10 vezes mais intensos e rápidos do que o previsto pelo Relatório do IPCC divulgado em 2007. Se os cientistas fazem esse alerta, como é que os Governos deixarão para depois a definição desse acordo tão importante para o futuro da vida neste Planeta?

Fora isso, o grande risco de adiarmos essas decisões é que temos muito pouco tempo para trabalhar na regulamentação do novo acordo, para que entre em operação no início de 2013.

Recentemente o Governo Brasileiro anunciou meta de redução de 36,1% a 38,9% em relação ao que o país emitiria em 2020 se nada fosse feito, é uma decisão importante, não? . AF: A decisão brasileira de assumir um compromisso de redução nas emissões dos gases do efeito estufa é muito positiva, além de ser fundamental para que o Brasil tenha um papel de liderança na COP15. A decisão voluntária do Brasil é uma forma de pressionar os países desenvolvidos a se comprometer e assumir metas na mesma magnitude.

Mas, só vamos conhecer o impacto real dessas metas quando o próprio governo divulgar o inventário de emissões relativo ao ano de 2004, o que está para acontecer. A meta atual foi defina em cima de projeções e não em cima de algo real.

Uma meta obrigatória tem um papel importante no cenário internacional, mas penso que isso, por si só, não garante que o país cumpra o compromisso. Afinal foram poucos os países que cumpriram as metas do Primeiro Compromisso do Protocolo de Quioto até o momento, e olha que o compromisso global é de apenas 5,2% de redução, imaginem agora com um compromisso de redução de 30 a 40%.

O que mais dever ser feito? . AF: É importante que o país assuma, incluindo aí governo, políticos, empresários e a sociedade como um todo, um esforço real de aliar a redução das emissões ao desenvolvimento de uma economia e uma sociedade de baixo carbono, independente de a meta ser voluntária ou obrigatória. Temos muito mais a ganhar se caminharmos nessa direção, investindo em tecnologias e energias do futuro, que terão uma demanda crescente a cada ano.

A redução das emissões de gases do efeito estufa é muito mais fácil para o Brasil do que para as outras grandes economias do mundo, afinal a maior parte das nossas emissões vem do desmatamento e queimada, e a maior parte disso vem de ações ilegais e de desperdício. É preciso cumprir a lei. O argumento que às vezes é utilizado de que precisamos desmatar e queimar para produzir alimentos não é válido, pois podemos duplicar ou triplicar a produção de alimentos e commodities agrícolas utilizando as áreas já abertas e a tecnologia já disponível no país.

Todos esses temporais que temos presenciado no Brasil, podemos relacionar isso com as Mudanças Climáticas? . AF: Não podemos afirmar com certeza que as chuvas intensas e tempestades que estamos vendo em vários estados brasileiros são conseqüência do aumento das emissões dos gases do efeito estufa e da não conservação da natureza. Mas, há muitas pesquisas que nos levam a acreditar que boa parte dessas alterações, muito provavelmente, já são resultado das mudanças climáticas globais.

E, de fato, temos presenciado uma maior ocorrência de fenômenos climáticos extremos. A natureza tem nos dado sinais de desequilíbrio, com temperaturas mais elevadas que o normal, secas fora de época em algumas regiões e o excesso de chuva em outras, e a ocorrência de ciclones e os furacões extratropicais.

Como a Fundação O Boticário contribui para amenizar os efeitos das mudanças climáticas? . AF: O trabalho da Fundação O Boticário é voltando para a conservação da natureza. E uma das formas de evitar as emissões de gases do efeito estufa e, consequentemente, amenizar os efeitos nocivos das mudanças climáticas, é conservar a natureza.

Neste sentido, a Fundação O Boticário mantém duas reservas naturais, uma na Mata Atlântica e outra no Cerrado, que hoje são os dois biomas mais ameaçados do país; e realiza o Projeto Oásis, que premia financeiramente proprietários de terra que protegem suas áreas naturais localizadas em mananciais na região da Bacia do Guarapiranga, na Grande São Paulo.

Outra forma é o apoio a projetos de outras instituições que trabalham com conservação, por meio de dois editais anuais. Esses editais apresentam seis linhas temáticas, entre elas “pesquisa sobre vulnerabilidade, impacto e adaptação de espécies e ecossistemas às mudanças climáticas” e “estudos para criação e manejo de unidades de conservação”.

Na esfera política, a Fundação O Boticário integra o Observatório do Clima, rede de ONGs e movimentos sociais, e é membro fundador do Fórum Curitiba sobre Mudanças Climáticas. | Por: Milena Miziara/NQM

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